7.6.12

Antonio Cicero: "Desejo"




Desejo

Só o desejo não passa
e só deseja o que passa
e passo meu tempo inteiro
a enfrentar um só problema:
ao menos no meu poema
agarrar o passageiro.



CICERO, Antonio. Porventura. Rio de Janeiro: Record, 2012.
(No prelo)

6 comentários:

  1. Cícero:
    Há algum tempo, vi num comentário de uma de suas postagens alguém pedindo a tradução de O Jardim de Proserpina, de Swinburne. Eu já conhecia o poema há algum tempo, e também nunca havia encontrado nenhuma tradução "decente" dele. Resolvi eu mesmo abraçar a tarefa. Acabo de publicá-lo no meu Tumblr, nesse endereço: nsantand.tumbrl.br. Minha tradução está lá, com as respectivas notas sobre o trabalho (deu trabalho mesmo!). Obrigado pelo apoio!
    A tradução? É esta:

    O Jardim de Proserpina
    Algernon Charles Swinburne

    Cá, em que a terra é calma;
    Cá, em que o drama é como
    Ar morto e exaustas almas,
    Dúbios sonhos assomo;
    Vejo o campo a medrar
    Para a ceifa e o plantar,
    A colheita e o roçar,
    Mundo fluido em sono.

    Farto de dor e riso,
    E de quem chora e ri;
    Do que vem sem aviso
    Aos que colhem aqui:
    Dos dias e das horas,
    Secos brotos da flora,
    Gana, sonhos, pletora,
    Tudo, menos dormir.

    Aqui a vida é morte,
    E onde não há olhares
    Brisas tênues escoltam
    Débeis almas e naves;
    São párias à deriva,
    Nus de expectativa;
    Mas aqui não há brisa,
    Nem voejam tais aves.

    Nada cresce no charco,
    Nada de vinha ou flora,
    Só um florescer parco,
    Verdes uvas de Cora,
    Camas de juncos móveis
    Prenhes de folhas débeis
    Que ela esmaga e fere.
    Homens em sua hora.

    Gris, e sem marca ou nome,
    Em tal terra de sal,
    Eles deitam e dormem,
    Da noite ao arrebol;
    E como alma tardia
    Cindida na porfia,
    Bruma por companhia,
    Da treva irrompe o sol.

    Até mesmo o mais forte
    É da morte um amigo,
    No céu, não rir da sorte,
    Nem, no chão, do castigo;
    Mesmo o que há de belo
    Tem seu fim, seu flagelo;
    Mesmo a paz e o desvelo
    São, no fim, desabrigo.

    Gris, além dos portais,
    Com folhas coroada,
    Une coisas mortais,
    Mãos eternas, geladas;
    Seus lábios são macios
    Assombram os gentios
    Que a buscam, erradios,
    Pelas eras e plagas.

    Por eles ela vela,
    Por todos ela espera;
    Esquece a terra bela,
    A vida pura e vera;
    Primavera, grãos, ave,
    Vá, em seu vôo suave,
    Aonde o som soa grave,
    E calcada é a hera.

    Lá vão amores murchos,
    De asas gastas, cansados;
    Anos tais ramos mochos,
    E entes consternados;
    Sonhos mortos e breves,
    Grãos cobertos por neve,
    Folhas (que o vento as leve):
    Abris[1] despedaçados.

    Não sei se sofreremos,
    E o gozo é incerto;
    Amanhã morreremos;
    O tempo é sem dileto.
    O amor é fraco, aflito,
    Tem lábios, mas contrito,
    Ais, e olhos de olvido,
    Choro que afasta o afeto.

    Por muito amor à vida,
    Do medo e fé libertos,
    Damos graças devidas
    A uns deuses incertos:
    Que as vidas se extingam,
    Que os mortos não se ergam;
    Que os rios que serpenteiam,
    Ao mar cheguem decerto.

    Nem o sol, nem estrela,
    Então, despertarão:
    Nem água que encapela,
    Nem um sinal ou som:
    Nem folhas de outono;
    Nem dias de abandono,
    Só um eterno sono,
    E eterna escuridão.

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  2. Parabéns por esse feito, Nelson!
    Quem agradece sou eu. Gostei muito. Vou pôr um link para o seu blog.

    Abraço

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  3. Cai como uma luva no presente momento de minha passagem por aqui....

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  4. Noite chuvosa
    Nevoeiro
    Pelo corpo inteiro
    A sombra
    Impossível dizer
    Nesse momento
    Apenas a intenção
    Mais sublime convida
    Rosa, branco,
    Pétala
    Diga-me agora
    O que é manhã
    Sem demora
    És penhasco
    Ferindo e abrindo
    Rasgando e formando laço
    Ou Seu abraço
    Na página branca da minha vida

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  5. Boa tarde. Obrigado por compartilhar seu poema. O blog é maravilhoso. Acompanho sempre. Queria saber se existe um "dicionário" poético; uma coletânea ou obra de poeta que se dedique a conceituar palavras relevantes. Não achei nada na internet nada parecido.

    Abraços!

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  6. Sim, Rodrigo Tomé. Há o "Pequeno dicionário de arte poética", do Geir Campos (Rio de Janeiro: Conquista, 1960). Receio que ele esteja esgotado, mas é possível encontrá-lo em sebos virtuais.
    Abraço

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