17.7.09

Gonçalves Dias: trecho de "Lira quebrada"

.


Lira quebrada

[...]

Uma febre, um ardor nunca apagado,
Um querer sem motivo, um tédio à vida
Sem motivo também,—caprichos loucos,
Anelo d'outro mundo, d'outras coisas;

Desejar coisas vãs, viver de sonhos,
Correr após um bem logo esquecido,
Sentir amor e só topar frieza,
Cismar venturas e encontrar só dores;

Fizeram-me o que vês : não canto,
sofro! Lira quebrada, coração sem forças
De poético manto as vou cobrindo,
Por disfarçar desta arte o mal que passo.

[...]


De: DIAS, Gonçalves. "Lira quebrada". Últimos cantos. Rio de Janeiro: Typographia de F. de Paula Brito, 1851.

12 comentários:

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  2. que seja triste e tudo, mas é uma gracinha esse poema né...parece de um adolescente de treze anos.

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  3. Cicero,

    Uma bela lembrança esse poema,recordei outro :

    "Tu pedes-me um canto na lira de amores,
    Um canto singelo de meigo trovar?!
    Um canto fagueiro já — triste — não pode
    Na lira do triste fazer-se escutar.
    Outrora, coberto meu leito de flores,
    Um canto singelo já soube trovar;
    Mas hoje na lira, que o pranto umedece,
    As notas d'outrora não posso encontrar!
    Outrora os ardores que eu tinha no peito
    Em cantos singelos podia trovar;
    Mas hoje, sofrendo, como hei de sorrir-me,
    Mas hoje, traído, como hei de cantar?
    Não peças ao bardo, que aflito suspira,
    Uns cantos alegres de meigo trovar;
    À lira quebrada só restam gemidos,
    Ao bardo traído só resta chorar. "

    (Gonçalves Dias - Que me Pedes)

    Abraço , Ricardo Soutto Maior

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  4. Belo, belo... vida noves fora zero.

    Aeta

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  5. Querido Cicero,

    comovente o poema. Lembro que certa vez você contou uma história de infância envolvendo Gonçalves Dias e a descoberta da poesia. Foi esse o poema que leu naquela ocasião?

    Um beijo.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Antonio Cicero, hoje, minha Lira quebrou,um ser amado foi-se, envenenado... procurei a poesia para não sucubir e te envio um pouco da Flavia Muniz como uma oferta a serenidade que a tua poesia me traz...Obrigada.
    "Plantei um poema-carta para dizer: o amor sabe escrever seus silêncios. Fiz isso, pois as letras têm pés e curvas e podem tocar os olhos e fazer afagos. É o arredonado dos abraços que cabe no círculo da boca a dizer(quem diz fala do tempo e da alma, dos tapetes voadores e histórias fantásticas). Mas uma imagem caberia bem melhor nestes sobrevoos: um balão movido por intensas labaredas de fogo a sobrevoar toda a cidade. E lá do alto avistasse o potencial humano de mudar o rumo das coisas. Meu trifásicoração a eletrificar os postes das ruas pavimentadas. Transeuntes a movimentar o moto-contínuo aqui-agora dos seres. Não sei voar, por isso canto."

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  8. Cicero,

    Espero que goste dessa minha astúcia com os versos rsrsrs!


    "QUASE PARNASIANO"



    DOZE PEQUENAS PARTES, UM DODECASSÍLABO.
    PERDIDA AQUELA LÁ, SOMAM-SE ONZE SÍLABAS.
    PARA O SONETO SÁFICO, UM HERÓICO
    MOVIMENTO DE NOVE PARTÍCULAS:


    UMA A UMA SONDAM OITO SONS,
    QUASE QUEBRANDO A MAIOR
    DE TODAS AS SEIS FILHAS,
    MENOR REDONDILHA.


    QUATRO UNIDADES,
    OUTRAS TRÊS.
    DISSÍLABOS?


    VERSO UM
    A
    UM.



    ABRAÇÃO!
    ADRIANO NUNES.

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  9. Não, Arthur. Na época foi o I-Juca Pirama.

    Abraço

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  10. Cicero,


    outro soneto:


    "À LA CARTE"


    A morte me morde
    Sempre todo dia.
    Ferindo-me, fria,
    Quer que me recorde


    Disso: acolá, cá,
    Dos caninos dentes,
    Das presas potentes,
    Que vive a fincar,


    Forte, em minha carne,
    E, dilacerando-a,
    Feito uma leoa,


    Come, numa boa,
    A minha pessoa
    E todo o meu cerne.


    abração!
    adriano nunes.

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  11. maravilha o poema!

    uma outra maneira de um bardo dizer-se astuto na elaboração de seus versos, já que, aqui, também, a vida camuflada, disfarçada, reelaborada, através desta arte, a arte poética.

    tudo lindo, benvindo!

    beijo, vate vivo de vida!

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