20.1.09

Voltaire: sobre o fanatismo

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Entende-se hoje por fanatismo uma loucura religiosa, sombria e cruel. É uma doença do espírito que se pega como a varíola. Os livros a comunicam bem menos que as assembleias e os discursos. Raramente alguém se excita ao ler, pois então pode ter o senso ponderado. Mas quando um homem ardente e de uma imaginação forte fala a imaginações fracas, seus olhos estão em fogo e esse fogo se comunica: seus tons, seus gestos abalam todos os nervos dos auditores. Ele grita: Deus te olha, sacrifica o que é apenas humano: combate os combates do senhor [lê-se na Bíblia: proeliare bella Domini (I. Reg. XVIII, 17)]: e vai-se combater.
O fanatismo está para a superstição como o delírio para a febre, como a fúria para a cólera.
Aquele que tem êxtases e visões, e que toma os sonhos por realidades, e suas imaginações por profecias é um fanático noviço que dá grandes esperanças: poderá em breve matar pelo amor de Deus.



De: VOLTAIRE. "Fanatisme". In: Dictionnaire de la pensée de Voltaire par lui même. Paris: Éditions complexe, 1994.

8 comentários:

  1. Prezado Antônio Cícero , sua escolha foi muito boa para profundas reflexões. É com muito gosto que venho aqui onde já me faz parte da vida as leituras suas e dos demais.Para mim é motivo de orgulho seu trabalho. Uma ótima noite para você. Abraço Welpe

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  2. UM AMIGO MEU QUER ME CURAR. ELE ACHA QUE QUEM É DOENTE, O É POR CULPA DE ALGUM DEMÔNIO. ARGUMENTEI QUE O PAPA, QUE NÃO TINHA MEUS COSTUMES, QUE MILHÕES SEGUIAM COMO MODELO, COMO SER ILUMINADO, TINHA A MESMÍSSIMA MOLÉSTIA QUE EU, QUE FOI TÃO POSSUÍDO QUANTO EU. MAS ESSE AMIGO É EVANGÉLICO, ENTÃO É ISSO, O PAPA TINHA PARKINSON POR SER ´CATÓLICO, NÃO POR FALTA DE PRODUÇÃO DE DOPAMINIA NO CÉREBRO, ISSO É UMA DESCULPA TOLA QUE A CIÊNCIA DÁ A OS MALEFÍCIOS DO CÃO. DO MESMO JEITO QUE INVENTARAM QUE O HOMEM VEIO DO MACACO, E NÃO DE UM PUNHADO DE BARRO, COM O NÍTIDO INTENTO DE NEGAR A CRIAÇÃO REAL, A DO GÊNESIS.
    MEU AMIGO ME ENCHEU O JUÍZO, ENTÃO EU DISSE: ABRE A BÍBLIA,COLOCA EM ÊXODO, E LEIA O CÓDIGO DE LEIS QUE DEUS DITA A MOÍSES. ELE LEU, TENTOU JUSTIFICAR, EU CAI NA RISADA, ELE DISSE QUE EU ERA ATEU, EU RI MAIS AINDA.
    MAS ELE É SINCERO, NÃO É BURRO, UM SUJEITO BACANA, E TALVEZ TENHA RAZÃO, NÃO ONDE QUER TER.
    FANATISMO JUSTIFICÁVEIS: ANA PAULO ARÓSIO, MAS A MAIORIA É COISA DE DEMENTE.

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  3. Impressionante a flexa certeira de seus escritos. E a contemporaneidade desse texto. O que me faz pensar se houve algum tempo em que inexistiu fanatismo. Acho que não.

    Seguiu a filosofia da Locke e dos deístas. No fundo não apresentou nenhum sistema novo, apesar da enormidade da sua obra. O grande lance de Voltaire foi sua enorme capacidade de expor ao povo as idéias da época, uma época Iluminada. Detestava a religião católica mas não concebia o ateísmo. Dele há uma famosa frase: "Se Deus não existe, deveria ser inventado".

    Ao participar da ruína dos fundamentos da autoridade de sua época foi um dos maiores contribuidores da Revolução Francesa.

    Grande Voltaire
    Ao levar luz ao povo
    Iluminismo

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  4. Antonio,

    Bela postagem. Educativa, instigante e verdadeiramente universal.


    ***PRANTO***


    Acreditei plenamente
    Em teus poemas.Vivi
    De versos multicolores,


    Num labirinto de mitos.
    Abandonada por ti,
    Ó Teseu perverso, fui.


    Perdi-me dentro de mim,
    À míngua, sem ver o fio
    Da meada ameaçado


    Por tuas vãs aventuras.
    Devia ter procurado
    Dédalo, visto seu vôo,


    Aprendido com a queda
    De seu náufrago filho.
    Acordei tarde demais.


    A vida viria a ser
    Esquecida de vez: Ilha
    De ditas e de surpresas.


    Entreguei-me a Dionísio
    E, bebemos vinho, a sós.
    Não mais à Creta voltei.


    Beijos,
    Cecile.

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  5. A carpideira dos meus sonhos nunca têm aonde ir.

    Por isso vai comigo a qualquer parte da cidade.



    Esteja eu onde estiver, seus olhos duros me observam,

    ávidos por transformar minha paisagem em desolação.



    Qualquer lugar é o inferno,

    qualquer fogueira é um incêndio,

    qualquer desdém, um cataclismo.



    Aos poucos, me devora o peito.



    Seu coração impiedoso me apresenta à dor,

    enquanto ri para o vazio que antecede a morte.



    Por fim, cansada de me ver de pé, suga-me a alma

    e se apresenta ao céu como se fosse eu.

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  6. Antonio,

    Está quase chegando o Carnaval...


    ***CARNAVAL***



    Encontro-te dentro dos contos
    De fadas. Eu tento falar
    Contigo através das estranhas
    Vibrações dos versos, das bravas


    E vastas invisíveis vozes
    Das fantasias infantis.
    Éramos travestis, crianças
    Incríveis, dragões voadores,


    Princesas, bruxas, peças
    Desse quebra-cabeça, presas
    De marfim, dama de xadrez.


    Apresentamo-nos vestidos
    De nós, durante quatro dias
    E, nus, Quarta-Feira de Cinzas.


    Beijos,
    Cecile.

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  7. ONDE TE OLHA A NUCA


    MARCELO NOVAES


    Eu sou a tua companhia secreta,
    desde a sombra das idades.
    Eu sou o Poeta dos poetas.



    Sou a resposta à tua invocação
    por um pressuposto bom,
    até então ausente.




    Eu sou o pressuposto,
    o olho onisciente antes
    do teu rosto.



    Afasto o que te ameaça
    a partir de dentro, desde
    que me saibas em teu
    íntimo.




    É só o que peço: que não restrinjas
    o meu espaço e me consintas para
    que caiba por entre as frestas do
    teu desejo por tantas outras
    coisas que não eu mesmo.




    Eu sou o bem que, por enquanto,
    só se vê de longe, ainda que venha
    antes e anteceda toda a tragédia
    que te constrange.




    Eu sou o que vê por detrás de tua
    face congelada, onde te olha a nuca,
    quando te viras e não vês nada.

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  8. adorei tudo, sem tirar nem pôr!

    voltaire ARREBENTOU!

    e você também, por tê-lo posto aqui, para a apreciação dos seus leitores.

    beijo enorme, lindão!

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