1.1.09

"Noite"

Por sugestão do Arthur Nogueira, ponho aqui mais um poema meu:



Noite


Vêm lá do canal
reverberações
do ladrar de um cão.

Uma dessas noites
tudo vai embora:
Leve-nos,
ladrão.

Abre-se o sinal
pra ninguém passar.
É melhor ser vão
tudo o que pontua
nossa escuridão.


De: CICERO, Antonio. GUARDAR. Rio de Janeiro: Record, 1996 / Vila Nova do Famalicão: Quase, 2002.

19 comentários:

  1. Gostei de Ler.
    Ótimo 2009.
    Grande abraço

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  2. A noite ensina ao dia:
    O breu imiscuindo as almas
    Os sonhos perfilados
    Infinidade de desejos
    A multiplicação da espécie
    Calma e violenta como a vida é

    O dia retribui, mostrando à noite:
    Os olhos bem abertos
    Os inimigos perfilados
    Desejos afiados
    O sexo sutil e detalhista
    Minucioso e requintado como a vida é

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  3. Esse poema é maravilhoso. Tive contato com ele por intermédio da Adriana Calcanhotto. Ele é enigmático, suscita inúmeras interpretações. O ladrão, o ladrar, o que é vão, o que é escuro, tudo isso junto e misturado nos leva para o lugar onde uma boa poesia deve levar!
    Feliz 2009, caro Antonio Cícero.

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  4. Obrigado, Eder!
    Feliz 2009 para você também!

    Grande abraço

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  5. Querido Cicero,

    Que amor atender o pedido. Eu adoro ler e ouvir esse poema, "Noite". A gravação da Calcanhotto é linda, a melodia do Orlando idem, tocantes.

    Agora, aproveito para esclarecer uma dúvida. A mudança na letra da canção proposital? Ela canta "abre-se o sinal sem ninguém passar". E acho lindo o "pra"...

    Obrigado - again. Um beijo grande.

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  6. Arthur,

    quando fiz o poema, fiquei na dúvida: ora usava "pra", ora "sem". Fui eu mesmo que dei a Adriana a versão com "sem". Até hoje não tenho certeza, mas fiquei contente de você gostar de "pra".

    Beijo

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  7. Há três meses conheci seu blog, e desde então não consigo mais ficar um dia sem dar um passadinha por aqui.
    Parabéns pelo excelente espaço.
    Feliz 2009 !
    Um abraço.

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  8. Amado Cicero,


    Lindo poema. Quando vi o poema com "pra" estranhei porque estava acostumado ouvindo Adriana com "sem". Gosto de ambos por motivos óbvios: não há alteração da métrica (mantém-se a redondilha), os sentidos expostos com "sem" e "pra" são lindos,
    além disso há com o uso do "sem" a seuência de sons em "S"; com o "pra" sequências em "R"...gosto dos dois porque são dinâmicos no poema.


    Abraço forte.
    Adriano Nunes.

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  9. Seja muito bem-vindo, Pimentel!

    Feliz ano novo!

    Abraço

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  10. ótimo.

    feliz ano novo.
    feliz ortografia nova?


    abraço.

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  11. Rafael,

    se você se refere ao "pra", observo que ele já fazia parte da ortografia antiga: já está dicionarizado há muito tempo. Mas
    também espero que seja feliz a nova ortografia.

    Abraço

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  12. Cada segundo vivido
    No oco do mundo
    Vale a pena
    Mesmo quando a noite serena
    Nos convida a navegar
    Não se sabe pra onde
    Construindo pontes
    Além do horizonte
    Na avenida passam carros sem cessar
    Nem reparo
    Persigo sem plano
    Meu mais doce engano
    A beleza do teu olhar
    Embriagado nas curvas
    Sereia do mar.

    Feliz ano novo, grande poeta, Antonio Cicero, e pra galera!

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  13. Querida Alcione,

    feliz ano novo pra você também!

    Beijo

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  14. Gostei muito do poema. O canal é aquele mesmo do Leblon, né? Quanto às duas variantes, está tudo certo: "pra" nesse contexto é mais enigmático, mais profundo e mais rico em entretons (pode haver alguém hesitando em atravessar a rua, pode não haver ninguém ou simplesmente um jogo de sombras) que "sem".
    Feliz Ano Novo!
    Oleg Almeida.

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  15. Caro poeta Antonio Cícero,

    deixe-me que lhe ofereça um poema meu também com o título de A noite, para comentar o seu belo
    poema:

    A Noite

    Perpassa, rasga a noite siderante
    um ar de desvario cego, vário,
    em busca do acaso incendiário,
    no dorso da loucura delirante;

    em busca do vazio, o chão errante
    à beira do abismo solidário;
    em busca, eu sei lá, do santuário
    aceso do pecado inebriante;

    em busca do queimor, dessa fogueira
    que sobe, sobe a prumo, nos abeira
    da febre galopante da paixão;

    perpassa, morde a pele:e até a lua,
    fremente como o sol, se perde
                              [e estua
    nos braços alongados do verão.


    Domingos da Mota

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  16. Tenho o seu livro, o Guardar. É muito instigante. E bom.

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  17. este poema é lindo. acho especialmente emocionantes os versos "Leve-nos, / ladrão."
    não conhecia seus poemas, caí neste blog por acaso e fiquei impressionado. vou voltar aqui muitas vezes.
    tudo de bom pra você, e abraço.

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