26.1.09

Dorothy Parker: "From a letter from Lesbia" / "De uma carta de Lésbia": tradução de Nelson Ascher

Sábado, Aetano enviou um comentário para este blog contendo um trecho de um poema de Dorothy Parker, traduzido por Nelson Ascher. Abaixo publico o poema inteiro, que pretende ser um fragmento de uma carta em que Lesbia, amante do poeta Catulo, maliciosamente comenta a Ode III, que ele lhe dedicara. Pode-se ler essa ode na postagem anterior, também com tradução de Nelson Ascher.



De uma carta de Lésbia

... Catulo está, portanto, fora da cidade,
Graças aos deuses! E eis, querida, o meu conselho:
Escolhe, para amante, quem quer que te agrade,
Salvo um poeta, pois ninguém é tão pentelho.

Tanto lhe faz se há briga ou beijo — são somente,
Com sua flauta sempre em mãos, um bom motivo
Para cantar sobre o que louve ou que lamente.
Meu tipo mesmo está mais para o executivo.

Chamei aquilo sobre a morte do pardal
(Que versos lúgubres, maçantes, comezinhos!)
De doce, até fiz que chorava e coisa e tal
Para o imbecil. — Só que eu odeio passarinhos...



FROM A LETTER FROM LESBIA

... So, praise the gods, Catullus is away!
And let me tend you this advice, my dear:
Take any lover that you will, or may,
Except a poet. All of them are queer.

It's just the same. — a quarrel or a kiss
Is but a tune to play upon his pipe.
He's always hymning that or wailing this;
Myself, I much prefer the business type.

That thing he wrote, the time the sparrow died —
(Oh, most unpleasant — gloomy, tedious words!)
I called it sweet, and made believe I cried;
The stupid fool! I've always hated birds...



De: PARKER, Dorothy. "From a letter from Lesbia". In: ASCHER, Nelson. Poesia alheia. 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro: Imago, 1998.

14 comentários:

  1. (rs) sensacional, cicero! adorei a prsonagem (rs)! o poema é um barato, e que divertido!

    beijo grande!

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  2. Ah Cícero ! Voltei no tempo agora ao relembrar Dorothy Parker.
    Adoro esses resgastes que você faz aqui ...Tão bom de ler ...
    Dorothy teve sua produção literária, por muito tempo ofuscada pela ferocidade de suas tiradas verbais.Eis uma :" Um de seus desafetos foi Clare Booth Luce, mulher do editor da revista Time. Pois reza a lenda que ambas se cruzaram em uma porta giratória. Clare, mais jovem, deixou que Dorothy passasse primeiro pela porta, sem antes cutucá-la: “As velhas, antes das belas”. Parker retrucou imediatamente: “As pérolas, antes das porcas”. Não é preciso dizer que Dorothy por muito tempo foi boicotada das páginas da Time. "
    Parker foi a mestre do humor amargo., seus contos e poesias são impregnadas de reflexões sobre amor, tristeza e solidão. Ela , desfaz qualquer resquício de sentimentalismo cunhando tiradas humorísticas que fazem seus leitores gargalharem enquanto acalentam suas próprias reflexões . Adoro seus versos curtos , presentes nas obras :“Enough Rope”, “Sunset Gun” e “Death and Taxes”.
    Eu destaco da obra dela versos e prosas de " Um Telefonema ",doce e amarga descrição da espera pela ligação de “alguém”...Irônico: no auge do sucesso, durante os anos 20 e 30, Ela tentou o suicídio três vezes. Seu melhor amigo, o crítico e humorista Robert Benchley, proferiu-lhe um conselho: “Dorothy, pare com isso. Suicídios fazem mal à saúde”. Pois Dorothy sobreviveu a quase todos da sua geração, inclusive a Robert, que, morto de cirrose hepática em 1945, suscitou o seguinte comentário da amiga: “Coitado do FDP!”.
    Ser Mulher ( DOROTHY PARKER)
    Por que será que quando estou em Roma
    daria tudo para estar em casa na redoma
    mas se estou na minha terra americana
    minha alma deseja a cidade italiana?
    E quando com você, meu amor, meu remédio,
    fico espetacularmente cheia de tédio
    Mas se você se levantar e me deixar
    Grito para você voltar?

    Hoje começa o Ano Novo Lunar , Ano do Boi ...Feliz Ano Novo !
    Beijo no coração de Todos ...GRAAL

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  3. Acho que Dorothy ia ler a carta com fundo musical....Será ?

    Once I was young
    Yesterday perhaps
    Danced with Jim and Paul
    And kisses some other chaps
    Once I was young
    But never was naive
    I thought I had a trick or two
    Up my imaginary sleeve and now I know
    I was naive
    I didn't know what time it was
    Then I met you
    Oh! what a lovely time it was
    How sublime it was too
    I didn't know what day it was
    You held my hand
    Warm like the month of may it was
    And I'll say it was grand
    Grand to be alive, to be young to be mad
    To be yours alone
    Grand to see your face
    Feel your touch
    Hear your voice
    Say I'm all your own
    I didn't know
    What year it was
    Life was no prize
    I wanted love and here it was
    Shining out of your eyes
    I'm wise
    And I know what time is now.

    GRAAL

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  4. Graal,
    acho ótimo você citar os clássicos, mas não se esqueça de dar crédito aos autores, citando seus nomes. Nem todo o mundo sabe que a letra que você acaba de citar, por exemplo, é de uma canção de Richard Rogers e Lorenz Hart.
    Abraço

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  5. Cicero,

    ótima madrugada!

    "O POEMA" (Para Mariana, do blog Suave Coisa)


    Gosto de ver o poema
    Sobrevoar esse céu
    De mil quimeras, sem véus.
    E que alegria suprema


    Sempre me invade! Seu vôo
    Supera a dor e dá vida
    À minha vida jazida:
    Abrem-se brechas e vou,


    Ao seu chamado, seguindo.
    Gosto de ver o meu verso
    Surgindo assim, porque lindo


    Mesmo é querê-lo disperso,
    Dentro dos sonhos infindos
    Do coração, do universo.

    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

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  6. Antonio,

    É complicado amar um poeta... essa alma que vive além! Belo poema/ambos - incluí aqui o da postagem anterior!

    ***SAMBA***


    Não sei mais nada desse amor.
    Não sei que encanto me envolveu
    Quando escolhi, para ser meu,
    Seu coração, mas acabou


    Toda alegria - suas batidas
    Aceleradas, suas pancadas
    Na madrugada - porque cada
    Triste canção era sentida


    Em nossas almas, como adeus,
    Como saudade que passou.
    Tudo depois aconteceu


    Em minha vida. Tão cansada
    De deja vu, dessa desdita,
    Estava mesmo a batucada


    Beijos,
    Cecile.

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  7. Se é pra voltar no tempo e ligar coisas (filosofia e poesia) aqui vai uma que dizem ser do Empédocles

    "Mas vós, ó deuses, desviai da minha língua a loucura destes homens
    E fazei brotar de meus lábios santificados uma nascente pura.
    E tu Musa com numerosos pretendentes, virgem de braços brancos,
    Eu te invoco, e dá-me o saber que as divinas leis permitem
    Entender às efémeras criaturas,
    Conduzindo um carro dócil vindo do reino da Piedade."

    Achei aqui

    http://filosofia.portal4free.com/foro/viewtopic.php?p=785

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  8. Na cidade guardo livros
    auto
    grafados


    Do poeta
    todo
    que filosofa

    Na minha cidade
    e nos livros
    guardar
    é ar

    Nada é importante
    Só guardar

    Livros, cidades, poetas
    caras
    setas
    que uma hora chegam
    ao alvo

    e no fim do começo

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  9. Que beleza! Melhor que ler "Poesia alheia" é lê-lo comentado por Antonio Cicero.

    Sempre grato!

    Abraços, Cicero!

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  10. O Escudo, o Elmo e a Sombra.





    Ele fermenta a partir das uvas
    pretas, dos bagos pisados das
    uvas pretas.

    E dele eu me embriago.
    Não bebo como ensinou
    Teofrasto, cortando o
    vinho em água, ou em
    carne antes
    degustada.

    Não, eu me embriago
    de verdade. Eu visto
    a máscara que me
    distorce,e ela me
    cola ao rosto.

    Eu fermento e me contorço,
    a partir dos bagos pisados.

    Eu sou o filho mal-gerado,
    que bebo e copulo bebo e copulo
    bebo e copulo e bebo, sem fim,
    para compensar a falta de amor
    do ato que a mim
    me gerou.

    Eu sou o filho do
    estupro.

    Eu sou o pária exilado em mim,
    e tenho sede de amor.

    Por isso bebo e copulo bebo
    e copulo e bebo, e a máscara
    me cola ao rosto, compacta,
    sem alívio.

    O meu caminho é cheio de
    escolhos, o meu vigor e meu
    amor próprio, sem o álcool,
    são tais quais o movimento
    ondulatório de um peixe morto
    e o desejo sexual de um defunto.

    Sem febre e fogo,
    eu sou um dejeto.

    Que se derrame, sobre mim,
    então, o vinho tinto ou o vinho
    branco, como o esperma se derrama
    sobre o óvulo que era infecundo no útero
    murcho, mas que inchou ao sofrer abuso.

    Porque bebo, eu
    posso!

    Porque bebo, agora
    vivo!

    E parece de menos que eu prossiga
    como um ébrio se assim existo,
    ao menos.

    Se não gosta disso,
    dê-me, então, uma
    escolha, ou um gole,
    dê-me um copo ou
    um colo onde eu
    me encolha,

    dê-me olhos que me tirem
    o véu que nublou o mundo.

    O mundo já tão nublado por
    bruma véu gaze febre e fome,
    por um cortinado em torno de
    um berço abandonado.

    Dê-me um gole!
    Somente mais um gole!
    Eu estou aqui pra te dizer que
    estou aqui,cambaleando, mas
    de pé.

    Quisera eu nunca ter sido
    pra não te constranger na
    hora do teu casamento.

    Eu vim aqui pra te dizer
    isso.

    Eu vim aqui pra me casar
    com você.

    Salve-me de mim, se por acaso
    podes.

    Eu já não sei o que fazer.
    Tente me compreender
    quando insisto que, para
    mim e por mim mesmo,
    não encontro meios. Só
    por Cristo, e por você,
    talvez.

    Eu vim aqui para dizer
    que não sei se posso,
    sóbrio.

    Eu vim aqui para dizer
    que me assusta o ócio,
    ainda que eu nada saiba
    fazer.

    Respeite o meu desejo
    de silêncio, que reside
    e dorme bem no meio
    do meu medo de ouvir
    o silêncio entre os teus
    seios.

    Eu vim aqui para dizer
    que estou aqui, ainda
    que pareça alheio,
    bárbaro, nômade,
    errante, estrangeiro.

    E sou.

    Mas quero te dar um lar
    e dá-lo a mim.

    E devo ser, talvez, mais
    do que esta máscara de
    bêbado, ainda que,
    quando a tire
    de mim,
    eu nada
    me saiba.

    Mas eu estou aqui,
    tremendo dentro de mim
    mesmo,essencialmente três:
    palavra, alma e
    máscara.

    E eu vim aqui pra te entregar
    meu medo, junto com a aliança
    que perdi no caminho.

    Esse medo expresso nos meus
    olhos baços, que te parecem
    lindos, que você acha lindos
    quando eu não
    bebo.

    Mas ontem e hoje e sempre,
    que eu me lembre, eu bebi
    e copulei e bebi e copulei e
    bebi e copulei,

    para sentir uma nesga
    do amor que, talvez,
    esteja em
    ti.

    Mas ontem te traí,
    devo dizer,
    aqui.

    Por isso, releve a minha
    embriaguez, pois te confesso
    em público o erro, nessa centésima
    trigésima vez, nesta hora em que expresso
    todo meu arrependimento e minha fraqueza,
    de joelhos.

    Eu sou o mendigo,
    você a senhora
    de meu destino.

    Eu sou o exilado
    em toda terra que
    piso,

    o bandido,
    o arlequim,
    o bandoleiro,

    o trágico,
    o palhaço.

    Eu sou o outro filho de Dioniso,
    o que implode em vez de disparar
    tiro.

    Eu sou aquele que sofre e faz sofrer,
    sem encontrar gozo ou alívio.

    Eu sou o pária expulso do corpo e do
    riso.

    Eu sou o meu desgosto o teu desgosto
    aqui expresso, de joelhos, patético,
    farsesco, fraudulento, estrangeiro
    para ti para mim para os outros,
    em meu próprio
    casamento.

    Eu me contorço e fermento,
    copulo e bebo e copulo e te
    traio e copulo e bebo, mas
    não me contento,
    nem me conforto.

    Eu sou um outro de fora
    que veio habitar o dentro,
    e não foi aceito.

    Meu ponto fraco é inteiro,
    e eu mesmo sou pedaço.

    O que eu seguro me escapa pelos
    dedos, como a aliança de casamento
    que eu perdi, a esmo, no caminho.
    Porque nem sigo reto, porque me
    inclino sempre à direita, como um
    escritor que está ficando
    cego.

    Eu sou um rosto a ser descoberto
    por tuas mãos, por teu beijo, por
    teu afeto.

    Eu sou um ébrio que pareço um
    encosto,

    um mendigo que pareço pedir
    teu sacrifício e tua falta de
    sono pra me esperar
    chegar enquanto
    nunca amanhece,
    quando o sol se
    esquece de
    acordar.

    Eu te trago a dúvida

    Eu faço dívidas.

    Talvez seja essa a outra
    coisa que te aterrorize
    além da aliança que
    deixei cair. Eu faço
    dívidas, e você
    não quer
    dividir.

    Em contrapartida,
    quando eu empresto, não
    me pagam. Eu sou tido por
    desonesto, quando sou fraco
    e desonesto.Os dois. É mais
    complexo.Eu sou o negativo
    do que pareço.Mas não sou
    vingativo.

    Eu não atiro, eu não machuco,
    eu não lincho, eu me desmancho
    e cedo,e choro à beira da sarjeta
    e do abismo, e prometo aos que
    passam o que não tenho.

    E chamo de amigos,
    porque os quero amigos,
    os que não
    conheço.

    Eu conto história de um
    passado que eu invento,
    talvez pra parecer um outro,
    completamente outro, eu que
    sou sombra, elmo e
    escudo.

    Eu que sou roto, quase
    afogado em álcool.

    Eu não tenho critérios,
    eu não tenho os meios,
    eu não sei ler os instrumentos
    aéreos para me sentir elevado quando bebo,
    para me sentir inspirado leve alado enlevado
    com o fogo que, em mim,
    fermenta.

    Eu sou balão à deriva,
    sem bússola, sem pára
    -quedas.

    Eu sou o herói pára-raios
    sob a chuva, o filho frágil
    que não se sustenta,
    entregue à
    borrasca.

    Eu sou luz lilás, mas nefasta,
    coberta com crosta negra,
    calcinada.

    Eu ofereço espetáculo
    gratuito, quando tropeço
    na calçada, quando peço
    um troco ou
    um trago.

    Eu estraguei a vida de muitos
    e a minha própria.

    Eu me dei a mim mesmo como
    oferta inóspita.

    Cantam contam cantam a minha
    história a minha ânsia a minha perda
    no coro da tragédia
    grega.

    Eu sou o que vaga entre os mortos, em
    vida.

    Ainda assim, eu estou aqui para dizer
    que estou aqui mesmo, para dizer que
    sim e que te aceito, mesmo tendo
    perdido nossa aliança de
    casamento.

    Faça-me potável, não mais ébrio e
    sujo, faça-me querido, faça de mim
    sair um homem inteiro, o homem bom
    que possa estar embutido.

    Faça-me sorver teu sim como um remédio,
    e salva-me de mim mesmo,
    e me dá abrigo.

    Dê-me a carne e o pão, dê-me a tua carne e
    me tire o vinho, pois não sei ser são sorvendo
    fogo não sei adoçar o fogo alisar o fogo acariciar
    o fogo amansar o fogo que me dói por dentro.
    Sopra, então, em mim o teu alento.
    Mistura um pouco do teu vento
    e do teu óleo bento no meu beijo
    azul noturno.

    Eu sou um ébrio e eu me contorço
    e fermento e existo como um escolho
    como obstáculo na vida dos que eu
    escolho.

    Abra o olho, meu amor.Ou melhor,
    feche os olhos pro meu beijo escuro.
    Nem eu mesmo sei bem o que quero.

    Eu sei o que não posso. Eu sei como me
    pareço: como novilho ou lobo preso no
    emaranhado espesso de arbustos com
    espinhos negros.

    Eu me pareço assim, sozinho, mesmo
    com você.

    E ainda que eu queira e teime e trema
    e me exprema e me ajoelhe, sinto que
    você não poderá dar jeito nesse meu
    fundo vermelho sobre negro.

    Eu sou complexo em mim mesmo,
    vermelho azul e negro. Nigérrimo.

    Eu sou o pária dos párias,
    um cão mordendo um pedaço de
    madeira.

    Então, não se case! Acorde!
    Enterre-me ali mesmo, ou
    deixe-me à beira do abismo,
    e não deixe de plantar por perto
    um cepo de videira!

    E que todas as montanhas sejam
    minhas!

    E que não haja mulher que me queira!

    Vou-me embora a pé, andando em curvas,
    como cheguei. E te peço, por mais que te pareça
    estranho: não me procure mais, me esqueça!
    Eu estarei chorando girassóis como sempre fiz,
    na sarjeta.

    Você não me quer mais,
    porque não me quer
    bêbado. Eu sinto.
    Vejo nos teus olhos,
    tens medo do vinho
    e do absinto.

    Você não pode comigo.
    Não creio que jogue a corda no
    fim do poço sem fim sem cair junto.
    Nem que possa tocar alcançar a dor
    que mora em mim como um filho
    dorme ao
    relento.

    Você não pode comigo, para viver ou
    morrer comigo, de joelhos, com o punho
    fechado sobre o peito, rezando aos monstros
    do caos primeiro. Não podes me acompanhar
    na noite de mim mesmo.
    Eu não creio!

    E cuspo aqui no chão, agora, em frente ao altar,
    para expressar meu desprezo por tua compaixão!
    Pode você suportar um eclipse do sol com o olho aberto?!

    Duvido!

    Deixo-te aqui! Cala-te! Pára de chorar!

    Pode você aplacar os poderes do inferno,
    sem se deixar fulminar?!

    Eu sou o bago pisado da uva negra,
    e o peso do pé que me pisou você
    não suporta,

    nem dividir minha ânsia, meu andar
    -sem-saber, meu frio que não encontra
    calor, meu calor que nunca amansa.

    Duvido! Quem é você?! Pote de
    lágrimas e náuseas com presunção
    de Madre Teresa, ou Nossa Senhora?!

    É você divina ou metade divina, ou é
    metade vermelha verme e azul noturna,
    como eu sou inteiro?!

    Você não pode seguir em paz com satanás
    do seu lado. Você não é santa, não me engana.
    Não se faça de ingênua à cabeceira de minha cama.
    Quando eu te conheci nem virgem mais era, nem fui
    eu que te fiz mulher! Como perdoar você, me diga?!
    Como me perdoar por querer me casar com você?!

    Só indo embora...

    Eu devia estar bêbado quando te
    encontrei na noite virulenta sem luz e sem fogueira.
    E eu já quase estava a me comprometer com você,
    com tuas ambivalências, com tua prepotência,
    com tua arrogância de imaginar poder salvar
    alguém. Teu lugar é o da pergunta, e não o de
    me dar respostas, cadela imunda e presunçosa!

    Eu sou teu rei, mesmo ébrio, porque te faço
    parecer boa e sã e boa, quando o que tu sabes
    fazer mesmo e de melhor é dormir com os
    meus amigos e com os que me desprezam!
    Então, diz pra mim, como amar a ti?!
    Pedes muito a mim, que mude. Eu,
    refugo de mim, desde a origem.

    Minhas costas doem, meu estômago
    chora e enjoa, mas quer mais um gole.
    Só mais um copo ou dois. Prove agora
    que me ama, saia daqui e me acompanhe!
    Beba comigo, mesmo que seja só por mim!
    Duvido, manequim de Madre Tereza!

    Duvido que possas comigo, sempre em
    metamorfose, como Raul Seixas, sempre
    fora de mim e mutante para me sentir mais
    vivo! Você é frágil, tola, arrogante, jamais
    teria sobrevivido ao fogo que eu bebo!
    Eu conheço o vinho! Eu conheço o
    sofrimento!

    Você conhece a mim e o arder sem fim
    de um desejo inquieto?! Duvido!

    Tenho pena de ti. Pena não, tenho nojo!
    Não serei o teu escravo, só porque
    te fecundei por acaso! Queres me
    aprisionar? Quer me aprisionar
    no teu calabouço? Na tua vida
    de repouso, enfado, banho,
    jantar e
    almoço?

    Eu sou bêbado, mas não sou cão
    para se adestrar, nem sou esse feto
    que você carrega por não ter coragem
    de tirar! Não é amor, é medo!

    Você é a escória que quer me escorar!

    Mas eu te escorraço agora! Porque sei que você
    tem nojo do seu filho, tanto quanto eu tenho nojo
    e desprezo por vocês dois, e de mim mesmo.
    E você também tem nojo e medo de mim,
    não me negue, vejo no teu rosto!

    Está aí exposto, na frente do padre e de
    todos! Não se ausente, não seja covarde
    como eu tenho sido, antes que seja tarde!
    Confronte-me! Confronte-se comigo!

    Se me ama tanto assim, corra atrás de
    mim sem se desesperar! Não aceito
    mulher sem postura! Eu sou bêbado,
    mas tenho os meus critérios!E você não
    pode comigo, nem com o que eu sinto e
    vejo. Você não pode suportar os cem
    cavalos negros de São Tomás de Aquino
    com seus cascos cinzentos, que cavalgam
    sob o céu e sobre o vento, você não pode
    com esse galope de cem cavalos coriscando
    raios,ainda mais que está grávida! Você não
    suportaria os raios, nem o sol negro, nem o
    olho mau de Deus, nem tudo o que eu conheço,
    sem sentar numa cadeira deitar-se numa cama
    e pedir
    arrego!

    Você não aguenta o galope de cem cavalos
    irados sobre a cabeça!Então reconheça e se
    despeça. Vou-me embora! Eu que sou três:
    copo, palavra alada, e alma. Eu que sou três,
    também: sombra, escudo e
    elmo.

    E se me despir,
    será longe
    daqui.




    Marcelo Novaes

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  11. Cicero,

    Um abraço forte e poético para você!

    "OS SEUS ABRAÇOS" (Para Antonio Cicero)


    Os seus abraços são tais traços,
    Seus olhos nos olhos, sorrisos
    São seus poemas mais amados
    Por meu coração de menino.


    Seus abraços são seus ouvidos,
    Seus toques na razão, sonhados
    Ensaios, em mim, tão sentidos,
    São seus sublimes comentários.


    Seus abraços são fortes laços
    Escritos, são todos feitiços
    De mãos e de braços. De fato,
    Desses abraços, sim, preciso!



    Adriano Nunes.

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