18.6.23

Diego Mendes Sousa: "Emissário do ridículo"

 


É com grande prazer que aqui posto o maravilhoso poema "Emissário do ridículo", que abre o extraordinário novo livro de Diego Mendes Sousa, Agulha de coser o espanto. Como disse, com toda razão, a grande escritora Nélida Piñon, a poesia de Diego "é uma coisa bela, muito poderosa, um fluido de vida".




EMISSÁRIO DO RIDÍCULO



"Todas as cartas de amor são ridículas"

Fernando Pessoa



A poesia é a máxima expressão do ridículo

e o poeta é um ser

excêntrico e risível.


O ridículo torna-se íntimo das palavras

e o poema

é a peça orgânica

que viabiliza 

o estranhamento da linguagem.


É no poema que o poeta expõe

as suas dores

e as suas mazelas,

a operar a desprezível história pessoal,

a revelar

a sua exótica humanidade.


A poesia é assim,

a insanidade a rir de si mesma.


Prefiro ser ridículo

a ter que perder as paredes testemunhais

dos meus sentimentos

e sofrimentos.


Reencontro  a minha infância,

porque é na inocência

(ou ainda no amor ausente ou na urgência da paixão)

que reside toda alma

devota ao ridículo.







SOUSA, Diego Mendes, "Emissário do ridículo", in: Agulha de coser o espanto

(Teresina, PI, Área de Criação, 2023)







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