23.12.21

Carlos Drummond de Andrade: "A vida passada a limpo"

 



A vida passada a limpo



Ó esplêndida lua, debruçada

sobre Joaquim Nabuco, 81.

Tu não banhas apenas a fachada

e o quarto de dormir, prenda comum.


Baixas a um vago em mim, onde nenhum

halo humano ou divino fez pousada,

e me penetras, lâmina de Ogum,

e sou uma lagoa iluminada.


Tudo branco, no tempo. Que limpeza

nos resíduos e vozes e na cor

que era sinistra, e agora, flor surpresa,


já não destila mágoa nem furor:

fruto de aceitação da natureza,

essa alvura de morte lembra amor.


 



ANDRADE, Carlos Drummond de. “A. vida passada a limpo”. In:_____ “A vida passada a limpo”. In:_____, Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.

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