10.9.21

Rainer Maria Rilke: "Einsamkeit" / "Solidão": trad. de Augusto de Campos

 



Solidão



A solidão é como a chuva que brota

do mar para o cair da tarde;

da planície distante e remota

para o céu, que sempre a adota.

E só então recai do céu sobre a cidade.


Ela chove, entre as horas, a seu despeito,

quando todos os becos buscam a madrugada

e quando os corpos, que não encontraram nada,

quedam-se juntos, tristes e frios,

e os que se odeiam, rosto contrafeito,

têm de dormir no mesmo leito:


aí a solidão flui como os rios...





Einsamkeit


Die Einsamkeit ist wie ein Regen.

Sie steigt vom Meer den Abenden entgegen;

von Ebenen, die fern sind und entlegen,

geht sie zum Himmel, der sie immer hat.

Und erst vom Himmel fällt sie auf die Stadt.


Regnet hernieder in den Zwitterstunden,

wenn sich nach Morgen wenden alle Gassen

und wenn die Leiber, welche nichts gefunden,

enttäuscht und traurig von einander lassen;

und wenn die Menschen, die einander hassen,

in einem Bett zusammen schlafen müssen:


dann geht die Einsamkeit mit den Flüssen...





RILKE, Rainer Maria. "Einsamkeit" / "Solidão". In: CAMPOS, Augusto de (trad. e org.). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2013.

Um comentário:

  1. Solidão

    Sei quem és,
    Na verdade,
    Mesmo sendo vários
    Eus
    É só mais um
    A cada segundo só neste mundo
    Um pouco até demais
    Não tenho certeza
    Sobre se a beleza existe
    Ou se é somente uma fragrância
    A lembrar nossa infância
    Se é por ela que vivo encantada
    Por sobre o ar pesado
    Do caminho europeu
    Tranquilamente toco o bandolim
    Junto com a harpa
    E cruzo as pernas
    A ouvir os camafeus.


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