16.6.21

Charles Baudelaire: "Correspondances" / "Correspondências": trad. por Ivan Junqueira

 



Correspondências



A Natureza é um templo onde vivos pilares 

Deixam filtrar não raro insólitos enredos; 

O homem o cruza em meio a um bosque de segredos 

Que ali o espreitam com seus olhos familiares. 


Como ecos longos que à distância se matizam 

Numa vertiginosa e lúgubre unidade, 

Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade, 

Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam. 


Há aromas frescos como a carne dos infantes, 

Doces como o oboé, verdes como a campina, 

E outros, já dissolutos, ricos e triunfantes, 


Com a fluidez daquilo que jamais termina, 

Como o almíscar, o incenso e as resinas do Oriente, 

Que a glória exaltam dos sentidos e da mente. 






Correspondances



La Nature est un temple où de vivants piliers 

Laissent parfois sortir de confuses paroles; 

L'homme y passe à travers des forêts de symboles 

Qui l'observent avec des regards familiers. 


Comme de longs échos qui de loin se confondent 

Dans une ténébreuse et profonde unité, 

Vaste comme la nuit et comme la clarté, 

Les parfums, les couleurs et les sons se répondent. 


Il est des parfums frais comme des chairs d'enfants, 

Doux comme les hautbois, verts comme les prairies, 

–  Et d'autres, corrompus, riches et triomphants, 


Ayant l'expansion des choses infinies, 

Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens, 

Qui chantent les transports de l'esprit et des sens. 





BAUDELAIRE, Charles. "Correspondances" / "Correspondências". In:_____. As flores do mal. Trad. de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.


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