16.12.20

Arthur Rimbaud: "Ma Bohème" / "Minha Boêmia"

 



Minha Boêmia

   (fantasia)


Lá ia eu, de mãos nos bolsos descosidos;

Meu paletó também tornava-se ideal;

Sob o céu, Musa! Eu fui teu súdito leal.

Puxa vida! A sonhar amores destemidos!


O meu único par de calças tinha furos.

– Pequeno Polegar do sonho ao meu redor

Rimas espalho. Albergo-me à Ursa Maior.

– Os meus astros no céu rangem frêmitos puros.


Sentado, eu os ouvia, à beira do caminho,

Nas noites de setembro, onde senti tal vinho

O orvalho a rorejar-me as fronte em comoção;


Onde, rimando em meio à imensidões fantásticas,

Eu tomava, qual lira, as botinas elásticas

E tangia um dos pés junto ao meu coração!





Ma Bohème

 (fantaisie)


Je m’en allais, les poings dans mes poches crevées ;

Mon paletot aussi devenait idéal ;

J’allais sous le ciel, Muse! et j’étais ton féal ;

Oh! là! là! que d’amours splendides j’ai rêvées !


Mon unique culotte avait un large trou.

– Petit-Poucet rêveur, j’égrenais dans ma course

Des rimes. Mon auberge était à la Grande-Ourse.

– Mes étoiles au ciel avaient un doux frou-frou


Et je les écoutais, assis au bord des routes,

Ces bons soirs de septembre où je sentais des gouttes

De rosée à mon front, comme un vin de vigueur ;


Où, rimant au milieu des ombres fantastiques,

Comme des lyres, je tirais les élastiques

De mes souliers blessés, un pied près de mon coeur !










RIMBAUD, Arthur. "Ma Bohème" / "Minha Boêmia". In: BARROSO, Ivo (org. e trad.). Arthur Rimbaud. Poesia completa. Edição bilingue. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.



Um comentário:

  1. Uma análise interessante da canção Fullgas feita pelo professor da ESPM, Renato Gonçalves:

    http://suplementopernambuco.com.br/artigos/2413-o-verso-que-quis-nos-ajudar-a-fazer-um-pa%C3%ADs.html

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