17.10.20

Carlos Cardoso: "Cavalos marinhos"

 



Cavalos-marinhos



Há na palma de minha mão

um cavalo-marinho.


No fundo do que sou

mergulho

em raras profundezas.


Talvez assim entenda

que viver

não é acordar após dormir

e que não há maior beleza

que a solidão

e o fechar os olhos e partir.


Vejo que são rasas as pessoas

pelas partículas que vejo.


Se assim creio, assim crio

nesse mar selvagem

e apenas sumo

entre os redemoinhos

e os cavalos-marinhos


entre ondas

que abrigam e afogam

para dentro me jogam

me deixando lá.





CARDOSO, Carlos. "Cavalos marinhos". In:_____. Melancolia. Rio de Janeiro: Record, 2019.

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