23.6.20

Afrânio Peixoto: "Na poça da lama"




Na poça da lama


Na poça da lama
Como no divino céu
Também passa a lua.





PEIXOTO, Afrânio. "Na poça da lama". In: CALCANHOTTO, Adriana (org.). Haicai do Brasil. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014.

3 comentários:

  1. Adoro esse haicai. É como o final do poema "Mar português", do Fernando Pessoa,
    "Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
    Mas nele é que espelhou o céu."

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  2. Olá, Antonio. Muito obrigado por compartilhar conosco esses belos poemas.

    Ficaria muito grato se você lesse um poema meu que reencontrei num dia desses e desse sua honesta opinião. Aqui abaixo deixo ele. Desde já, agradeço pela atenção.
    Abraço.




    CHÃO


    Há poesia pra toda hora:
    ela se insinua no teto
    quando descansa
    cansado do dia
    Infindável.

    Se insinua nas coisas sem fim:
    no caso e no descaso
    no sol matutino, num
    termino de tarde
    no corpo íntimo
    rebelde, rijo
    Escarlate.

    Nos pés doloridos que descalçam
    sapato ruim, maltrapilho.

    (prazer surrupiado)

    Pois, não há poesia em tudo:
    ela pode ser obscena,
    Provocativa
    pode ser o demônio,

    (até a mulher)

    Mas não está em nada.

    Vem nua quando menos
    Se espera, cândida
    No tempo que fecha
    A garganta enciumada
    Ou no peito carente
    Ou no luto abrupto
    Ou ainda
    Na lua, enfim, ensolarada

    Poesia não finda
    Muito menos começa.

    (boia estática)

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