Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
ANDRADE, Carlos Drummond de. "Mãos dadas". In:_____. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.
Este blogue - Acontecimentos - é espaço que me admirou já há muito tempo. O autor, ainda que alçado a imortal da ABL, mantém o blogue sempre ativo, compartilhando ideias e inspiração pelas letras. Isso é admirável.
ResponderExcluirQue o blogue perdure por bastante tempo ainda.
Desejo a você, Cícero, um feliz ano-novo, com saúde, e mais fecundos trabalhos.
Fique bem.
Muito obrigado, Flávio Tadeu dos Santos! Fico feliz com suas palavras.
ResponderExcluirTenha um esplêndido ano novo!
Abraço
Uma sugestão. Se possível, indicar também o ano da publicação original do poema e o título do livro em que ele apareceu pela primeira vez.
ResponderExcluirOlá, António Cícero, bom dia.
ResponderExcluirHoje, sonhei com uma estrofe deste poema e comoveu-me encontrar este seu post de Dezembro do ano antes da pandemia, quando toda a "engrenagem" do que aqui nos trouxe já estava em movimento.
Viva os Poetas: Drummond, Cícero e tantos Outros!
Um forte abraço desde Lisboa
Muito obrigado, Ana Catarina!
ResponderExcluirForte abraço