Amazônia
no entanto
escuto às vezes , imerso
em trevas .
Em minhas
veias , é certo ,
corre o sangue
da floresta ,
mas da cidade
almejada.
A Amazônia quer
versos heroicos e épicos ,
e tão frívolos que nem sequer reparam
se pararam nas palavras
ou nas coisas
e não raro tomam aquelas por
estas
e a árvore
pelas florestas e aquela
É verdade que me fascinam
os rios
há muito
tempo entre
as florestas e os símbolos ,
a cultuar Ares , o terrível
deus
da guerra :
terrível sim ,
porém não
tanto
no leito
e o domou e o dobrou e o comeu;
nem tão tremendo quanto
Hefesto, o marido
da deusa, deus
das técnicas e do fogo ,
agarrou o adúltero
Ares , o arisco ,
e a dourada Afrodite
na própria cama ,
nessa fração
de segundo que
sonhavam
perpetuar; e que
ao ser perpetuada,
virou tortura :
pois como ser repouso
o gozo , movimento vertiginoso ,
Convidado por
Hefesto, todo o Olimpo
assistiu ao espetáculo
do enlace
de Ares
e Afrodite e ecoou toda a tarde
a gargalhada
dos deuses . A pedido
do deus
do mar , porém ,
Hefesto os soltou.
Trácia, e ela ,
com um
sorriso , para
a ilha
de Chipre, cercada
de um mar
furta-cor ,
onde as graças
lhe prepararam um
banho
o óleo
ambrosíaco com que
a tez dos deuses
esplende, vestiram-lhe um
robe ... e reparo :
terríveis são, mais do que os deuses, Demódoco
a flagrar a cena
inteira com
seu estro ,
e Homero, a nos
prender em teias
de versos
entre a Feácia e o Olimpo. Recordo-os
e esqueço a que
ponto me
perdi da selva
dos meus
ancestrais . Que
não me
guardem mágoa
nossas amazonas .
Filho da diáspora
e dos encontros
fortuitos , o poema
me esclarece: toda
origem é forjada
no caminho
cujo destino
é o meio .
CICERO, Antonio. "Amazônia". In:_____. Porventura. Rio de Janeiro: Record, 2012.
Antônio Cícero, boa tarde!
ResponderExcluirBelíssimo poema, pertinente ao momento e ao mesmo tempo, pela grandiosidade, lembra os poemas de Gonçalves Dias.
Adriana Calcanhotto deve ter gostado.
Abraços.
Obrigado, Fabiana!
ResponderExcluirBeijos