26.6.18

Adriano Nunes: Sobre o videclipe da canção "Ninguém"



O dia amanheceu esteticamente implacável e belo! Um salve para todas as Musas que inspiraram o potente e inquieto Zé Pedro a dirigir o videoclipe "Rei Ninguém", da canção do Arthur Nogueira. No vídeo, vê-se a tensão dramática da poesia que a canção abarca, reluzindo e refletindo-se em uma amplidão enigmática em que o espectador não sabe a que instância dos signos o Rei que é metaforicamente Ninguém vai chegar, se quer realmente em algum lugar fisicamente alcançável. Mas não se enganem! O Rei Ninguém do Arthur Nogueira está além das convenções pragmáticas das estéticas mesquinhas e ornadas de clichês. Dizer que tem as terras de ninguém é dizer, ainda que pesem todas as consequências inescapáveis do devir e do saber sobre, que possui as terras além-dono: as terras-de-ninguém são as notas musicais da bela canção, são as imagens plenas de sentidos e significados vistas no vídeo,  procurando traduzir a real grandeza, o real tesouro que o artista tem em mãos, e de que alma e sinapses precisam para ser um rei, um rei ainda que, sob o pseudônimo "Ninguém", reine absoluto no reino que é poeticamente só seu e que lhe dá sentido e vida: o reino da Arte. Assim, como Ulisses, na Odisseia, a responder ao feroz ciclope Polifemo, astuciosamente, parece que Arthur responde a todos com a sua voz enigmática e transcendente: "Ninguém - este é o meu nome!". Bravíssimo! 
Para ser aplaudido de pé!

Adriano Nunes

Nenhum comentário:

Postar um comentário