1.3.18

Augusto de Lima



Nostalgia panteísta

Um dia, interrogando o níveo seio
De uma concha voltada contra o ouvido,
Um longínquo rumor, como um gemido,
Ouvi plangente e de saudades cheio.

Esse rumor tristíssimo, escutei-o:
É a música das ondas, é o bramido,
Que ela guarda por tempo indefinido,
Das solidões marinhas de onde veio.

Homem, concha exilada, igual lamento
Em ti mesmo ouvirás, se ouvido atento
Aos recessos do espírito volveres.

É de saudade, esse lamento humano,
De uma vida anterior, pátrio oceano,
Da unidade concêntrica dos seres.




LIMA, Augusto de. "Nostalgia panteísta". In:_____. Poesias. Rio de Janeiro e Paris: Garnier, 1909.

3 comentários:

  1. A POESIA É MARAVILHOSA

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  2. Talvez seja verdade e tenhamos saudade de vidas anteriores - ou apenas da anterior. Seremos então incessantes búzios ecoando funduras de oceano.

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  3. oi cicero! olha que poema legal de um poeta daí do rio:

    os piores pedestres
    e alguns corações
    nunca olham pra frente

    caminham como se vivessem
    sós
    na cidade/

    os maus motoristas
    e alguns corações
    ignoram sinais e placas

    querendo que todas as ruas
    sejam de
    mão única//

    muitos ciclistas
    e alguns corações
    se acham donos das calçadas

    abusando da injusta soma
    homem
    máquina///

    há também o meu coração
    de entregador de água
    rei de todas as bandalhas

    não usa buzina, se faz de coitado:
    - olha
    o pesado////


    Nuno Virgílio Neto

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