Um outro um
Caminho com o outro que é um vulto
a me seguir ao sol. O que não tem
nome ou norma e sequer se faz oculto,
porque livre é seu hoje e o seu além.
Não posso deletar esse atributo
que já está na conta do armazém
do ser. E ainda que me faça astuto,
eu próprio já não sei se quando é quem.
Se me desperto acordo em alvoroço
aquela voz que grita nos meus ossos
uma pavana feita de alarido
(num apelo febril mais do que posso).
Por vezes, me pergunto estarrecido:
foi ilusão de espelho esse ter sido?
MARANHÃO, Salgado. "Um outro um". In:_____.
Avessos avulsos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016.
suas pantufas
ResponderExcluirenquanto todos seguem se odiando frente ao espelho
procuro um lugar para suas pantufas
no armário vazio
fantasmas no corredor
insistem que sabem e vão dizer, gravar na pele
com ak-47, e de quebra
tirar sonhos e todo o dinheiro
mas os gritos com baba deixei no mute
dou play nas suas fitas cassete e mozart surpreende o silêncio
portanto,
podem dizer que o mundo vai acabar e avacalhar todo o Estado de direito
que nada será tão grandioso
quanto o local que reservei
para guardar suas pantufas