14.8.16

Salgado Maranhão: "Um outro um"




Um outro um

Caminho com o outro que é um vulto
a me seguir ao sol. O que não tem
nome ou norma e sequer se faz oculto,
porque livre é seu hoje e o seu além.
Não posso deletar esse atributo
que já está na conta do armazém
do ser. E ainda que me faça astuto,
eu próprio já não sei se quando é quem.
Se me desperto acordo em alvoroço
aquela voz que grita nos meus ossos
uma pavana feita de alarido
(num apelo febril mais do que posso).
Por vezes, me pergunto estarrecido:
foi ilusão de espelho esse ter sido?



MARANHÃO, Salgado. "Um outro um". In:_____. Avessos avulsos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016.


Um comentário:

  1. suas pantufas


    enquanto todos seguem se odiando frente ao espelho
    procuro um lugar para suas pantufas
    no armário vazio

    fantasmas no corredor
    insistem que sabem e vão dizer, gravar na pele
    com ak-47, e de quebra
    tirar sonhos e todo o dinheiro

    mas os gritos com baba deixei no mute
    dou play nas suas fitas cassete e mozart surpreende o silêncio

    portanto,
    podem dizer que o mundo vai acabar e avacalhar todo o Estado de direito

    que nada será tão grandioso
    quanto o local que reservei
    para guardar suas pantufas

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