2.6.16

Antonio Cicero: "Tâmiris"



Hoje fiquei contente de ouvir no program "A vida breve", da RTP -- Rádio e Televisão de Portugal -- o meu poema "Tamiris", recitado por mim mesmo. Fica no seguinte enderço: http://www.rtp.pt/play/p1109/e238101/a-vida-breve


O poema, baseado em mito relatado na Ilíada, é o seguinte:



Tâmiris

Jamais poeta algum houve mais alto
do que Tâmiris, o trácio, rival
de Orfeu, cujo canto é capaz de dar
saudade do que nunca nos foi dado
salvo reflexo em verso de cristal.
Se um mortal alcançasse ser feliz,
tal seria Tâmiris: quem o vir
deitado sobre a grama com o rapaz
(digno, pela beleza, de dormir
nos braços do próprio Apolo) que o ama
e cujos cabelos Zéfiro afaga
com dedos volúveis, há de convir
comigo em que é assim, a menos que haja
visto, no rio em que agora mergulham
ou na relva que ao sol dourada ondula
no antebraço do moço à beira d'água
ou na ode em que essa manhã fulgura
e foge para sempre, agora e aqui
refolharem-se o passado, o porvir,
o alhures: tantas trevas na medula
da luz. Já Tâmiris quer possuir
as Musas que o possuem. É seu fado
desafiá-las e perder: insensato,
esplêndido, cego, cheio de si.




CICERO, Antonio. "Tâmiris". In:_____. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002.

3 comentários: