9.8.15

Salgado Maranhão: "Viajor"




Viajor

caminho no torrão
onde a língua guardou
seus trapos; sua
vertigem de lírios
e sermões. Sigo

à deriva,
entre fogueiras e degelo,
neste voo escarrado de abismo
e santidade.

Sou o viajor que carrega
a seara mítica
e a liturgia do fogo.

Sonhei uma aldeia
de vinhas
                 (ou um barco
arrancado aos piratas?)

 e tenho só este sol
que me queima a língua;
e tenho só esta sede inflamável
misturada ao sangue
dos bichos.

Estou contaminado de esquinas
e devires.



MARANHÃO, Salgado. "Viajor". In:_____. "Chão de mitos". In:_____. Ópera de nãos. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2015.

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