13.8.15

Manuel Joaquim Ribeiro: "Mais pode o sol deixar de ser luzente"





Mais pode o Sol deixar de ser luzente,
E com a noite misturar-se o dia;
Ser a calma, bem como a neve fria,
E ser por natureza o gelo quente:

Mais pode o mar de ser movente,
E de ser rocha a bruta penedia,
Tornar-se em trevas tudo o que alumia,
E a mesma terra ser resplandecente:

Mais pode o mundo em nada ser desfeito
A matéria perder a gravidade,
Deixar o fogo de queimar o efeito:

Mais pode, enfim, ser sombra a claridade,
Que eu deixar de sentir no terno peito
O golpe que me fere da saudade.



RIBEIRO, Manuel Joaquim. "Mais pode o sol deixar de ser luzente". In: AMORA, Antonio Soares (org.). Panorama da poesia brasileira, vol.1. Era luso-brasileira (séculos XVI-c. XIX). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1959.

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