26.12.14

Glauco Mattoso: "Soneto rodador [1001]"





Soneto rodador [1001]


Palíndromo perfeito é o "oroboro",
a cobra que devora o próprio rabo.
Com esse talismã começo e acabo
um tema que dos bruxos é namoro.

Porém, como sou falto de decoro
e de ser pornográfico me gabo,
engulo meu caralho, até me enrabo
e rindo dessa dor gozo meu choro.

Assim sempre vivi, juntando extremos,
tirando da agonia meu proveito,
casando maus anjinhos com bons demos.

Erótico e autofágico é o conceito,
portanto, do "oroboro": eis como vemos
a cobra do palíndromo perfeito.



MATTOSO,  Glauco. "Soneto rodador". In: CORONA, Ricardo (org.). Cobra. Curitiba: Medusa, 2014.

2 comentários:

  1. Escrevi soneto para Glauco quando o visitei :::

    Rua Morgado de Matheus :: o palco
    do soneteiro mais iconoclasta.
    Um Zé perdido numa Silva gasta
    que encontrou-se no mato como Glauco.

    Nem chegues perto se tens a alma casta
    Aqui não rola vaselina ou talco
    expõe as taras em alto catafalco
    e a hipocrisia o cego assim devasta.

    São 5.550
    e 5 sonetos, quem é que tenta
    sobrepujar-lhe o récorde alcançado?

    Neguinho aí não chega nem aos pés.
    E o dissoluto doudo por chulés
    fica puto quando ouve um pé quebrado.

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