Soneto rodador [1001]
Palíndromo perfeito é o "oroboro",
a cobra que devora o próprio rabo.
Com esse talismã começo e acabo
um tema que dos bruxos é namoro.
Porém, como sou falto de decoro
e de ser pornográfico me gabo,
engulo meu caralho, até me enrabo
e rindo dessa dor gozo meu choro.
Assim sempre vivi, juntando extremos,
tirando da agonia meu proveito,
casando maus anjinhos com bons demos.
Erótico e autofágico é o conceito,
portanto, do "oroboro": eis como vemos
a cobra do palíndromo perfeito.
MATTOSO, Glauco. "Soneto rodador". In: CORONA, Ricardo (org.).
Cobra. Curitiba: Medusa, 2014.
Delicioso!
ResponderExcluirEscrevi soneto para Glauco quando o visitei :::
ResponderExcluirRua Morgado de Matheus :: o palco
do soneteiro mais iconoclasta.
Um Zé perdido numa Silva gasta
que encontrou-se no mato como Glauco.
Nem chegues perto se tens a alma casta
Aqui não rola vaselina ou talco
expõe as taras em alto catafalco
e a hipocrisia o cego assim devasta.
São 5.550
e 5 sonetos, quem é que tenta
sobrepujar-lhe o récorde alcançado?
Neguinho aí não chega nem aos pés.
E o dissoluto doudo por chulés
fica puto quando ouve um pé quebrado.