Muita gente me pergunta qual foi a primeira letra de canção que fiz. Bem, era um poema, guardado na gaveta, que Marina musicou. Chama-se "Alma caiada". Maria Bethania chegou a gravá-la, mas ela foi censurada pela ditadura. Depois, Zizi Possi a gravou lindamente. Ei-la:
Aprendi desde
criança
que é melhor
me calar
e dançar
conforme a dança
do que jamais
ousar
mas às vezes
pressinto
que não me
enquadro na lei:
minto sobre o
que sinto
e esqueço
tudo o que sei.
Só comigo
ouso lutar:
sem me poder
vencer,
tento afogar
no mar
o fogo em que
quero arder.
De dia caio
minh’alma.
Só à noite
caio em mim:
por isso me
falta calma
e vivo
inquieto assim.
não conhecia essa gravação. adorei!
ResponderExcluirsegue meu último texto, esquisito como os outros.
abrçs!
tardes bárbaras
enquanto víamos Netflix
rodrigo matou o namorado
da mãe a pauladas
roberto serrou o corpo do zelador
richard queimou crianças vivas
após roubar um x-box - e ainda teve o josé:
após atirar num pai-de-família
chutou o bebê que estava no colo
há teorias que nos mandam perdoá-los
outras que pretendem consertá-los
e há os que neles se inspiram e que desejam
matá-los.
Cicero,
ResponderExcluirDemais! Demais! Viva!
Abraço forte,
Adriano Nunes
Linda essa canção. Poesia & música: pão e trigo. Cadeira e mesa.
ResponderExcluirAbraços
Arsenio
Lindo!!! Encantando!!!
ResponderExcluirAntonio Cícero,
ResponderExcluirGosto muito do seu blog, obrigada pela sua poesia.
Quando ouvi esta canção pela primeira vez, há cerca de dois anos, antes de conhecer o seu blog, fiquei encantada. Não sabia que era um poema seu, o primeiro musicado por Marina!
A voz de Zizi Possi, a sua interpretação, é linda! E caia o poema sob medida, na doçura do prazer e na agonia da batalha da alma caiada de dia e caída na noite.
O seu poema me remete à vã luta contra os desejos noturnos de Konstantinos Kavávis, retratados em "Jura", que transcrevo abaixo. Não sei se lhe parecerá pertinente esta alusão.
Um abraço,
Cecília MacDowell Santos
Jura
A cada pouco jura começar vida nova. Mas quando a noite vem com seus conselhos, seus compromissos, com suas rpomessas; mas quando a noite vem com sua força (o corpo quer e pede), ele de novo sai, perdido, atrás da mesma alegria fatal.
Kaváfis, Konstantinos. Poemas. Trad. José Paulo Paes. 2a. edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 130.
Cecilia,
ResponderExcluirMuito boa a lembrança desse Kaváfis em relação a 'Alma caiada'. Obrigado!
Abraço