Poema dum funcionário cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
ROSA, António Ramos. Poemas de António Ramos Rosa. Aprsentação, seleção, notas e sugestões para análise literária de Cristina Almeida Ribeiro. Lisboa: Editoral Comunicação, 1985.
uau!!!
ResponderExcluirCaro Antônio Cícero,
ResponderExcluiruns dias que passei sem visitar seu indispensável blog e: ! eis que me deparo com o poema de Ramos Rosa que eu postaria no meu amanhã. Estar em alguma forma de sintonia com você é algo que só me faz bem - que faz bem a qualeur pessoa que se preze, segundo penso. Postarei outro, claro, e penduro este aqui no Facebook, divulgando-o. Um grande abraço, saudade do
Roberto Bozzetti
Caro Roberto Bozzetti,
ResponderExcluirtambém fico muito contente de estar em sintonia com você. maravilha!
Grande abraço,
Antonio Cicero
Gostei muito.
ResponderExcluirObrigado, Cicero.
Maria Bethania recitou trechos desse poema no recital dela. tenho quase certeza, depois emendou com Paulinho da Viola.
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