6.8.13

Sophia de Mello Breyner Andresen: "Soneto de Eurydice"







Soneto de Eurydice

Eurydice perdida que no cheiro
E nas vozes do mar procura Orpheu:
Ausência que povoa terra e céu
E cobre de silêncio o mundo inteiro.

Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.

Porém nem nas marés, nem na miragem
Eu te encontrei. Erguia-se somente
O rosto liso e puro da paisagem.

E devagar tornei-me transparente
Como morte nascida à tua imagem
E no mundo perdida esterilmente.



ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. In: BERARDINELLI, Cleonice (org.). Sonetos portugueses de Camões a Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. 

Um comentário:

  1. Avesso

    Espanta-me o ar
    E a sede de amar
    O descaso na real
    O discurso na rede
    A bravura de um
    Espanta-me
    Deserto
    Tudo vazio
    Triste de olhar
    Jardim de cegueira
    Avesso do mar.

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