(Washington, D.C.)
Como um velho como um cão
sentado num parque frente aos desportistas
ressentindo Pessoa o Campos como ele
como um velho como um cão
sentado num parque ao sol
a não pensar em nada ou repensando
as coisas sem interesse e sem razão
Deixar correr o tempo sem memória
entre memoriais de tudo quanto houve
valendo-me assim do que os outros lembram
para nada lembrar não tanto
como um velho sentado num parque:
como um cão.
TAMEN, Pedro.
Memorial indescritível. Lisboa: Gótica, 2000.
Ótimo poema.
ResponderExcluirColoquei um poema meu lá no Facebook e me lembrei de ti.
Taí o tal:
amor fati
um lance de dados
jamais abolirá o debate
Ah! Também postei lá um poema teu, o "3h47". Tô adorando o livro.
Abbracci.
Obrigado, Paulo.
ResponderExcluirAdorei o mallarmaico "amor fati".
Abraço
Fluxo
ResponderExcluirBem ao longe
Posso distinguir
A imagem do porto e
O que há e vir?
Encurta-te ó caminho
Que a aurora
Já não quer ir embora
percorre os ventos a escuna
pelo mar balançando em
calmo fluxo florido
Em meio à nuvem
E para além do olvido.
Cicero, seu livro "Porventura" tá demais, lindas jóias, parabéns! que bom que existe a net e blogs e podemos ler e escrever também, valeu, grande poeta! Abraço
Muito obrigado, Alcione! As avaliações de poetas são as mais importantes para mim.
ResponderExcluirBeijo
Adriano Nunes: CRÍTICA LITERÁRIA: "Porventura" de Antonio Cicero
ResponderExcluirCRÍTICA LITERÁRIA:
"Porventura" de Antonio Cicero
A poesia é indispensável. Isso seria um justo balanço para que um poeta dissesse às musas o quão importante é a poesia, para o próprio poeta, para os outros poetas, para o leitor, para o mundo, para a poesia, sim, para a poesia, porque a poesia que é indispensável é a boa poesia, aquela trabalhada, pensada, muitas vezes tardia, muitas vezes mutilada, dissecada, precisa, que pode demorar anos, meses, dias, horas, minutos ou surgir, súbita, em segundos, como um susto, um lampejo, um relâmpago, para, depois de plena, lançar cosmos no cosmo, existências sobre a existência. Bem, o leitor, no final das contas, no balanço geral, definitivo, é quem mais ganha com isso. O livro "Porventura" de Antonio Cicero, recentemente lançado pelo Grupo Editorial Record, com seus 35 belos poemas, justifica afirmar: A poesia é muito mais que indispensável!
Marcado por momentos intimistas, cotidianos (perdas de amigos, familiares) e reflexivos, "Porventura" se desdobra, multiplica-se a cada vez que é lido. O livro se abre com o denso e tenso poema "Balanço" com hendecassílabos instigantes, belos, nos quais o saldo alegre, nítido, colorido que o amor impõe à vida, anulando a morte, contrapõe-se com a presença fria, dura, pesada, da morte, que também tem arte.
"Porventura" é um grande achado na poesia contemporânea. Seus poemas, aparentemente simples, muitos dos quais fazendo referências ao dia a dia, como se fossem feitos para um leitor comum, desatento, não o são. São versos calculados, feitos com maestria, onde se percebem o rigor técnico apurado, uma sensibilidade superior e um viés poético único, universal, capaz de criar imagens especiais, impactantes, de uma beleza rara, ou melhor, dadas como portentos à vista de quem lê.
Cicero trabalha ainda um de seus temas preferidos, a mitologia, a Grécia Clássica, fazendo referências explícitas a Homero, a Horácio, à Guerra de Troia, a Ícaro, iluminando-nos com o seu saber.
Ao ler "Porventura", emocionei-me bastante. Algo me tocou profundamente. Como leitor. Como poeta. Como amigo que ganha de presente um poema dedicado - "Leblon" -. E chorei ao recitar o poema "Presente" dedicado ao poeta Eucanaã Ferraz, entendendo a pergunta: E Por que não dar a mim mesmo este presente?
"Porventura" é livro para se dar, dar aos amigos, é para louvar, levá-lo aonde se vai, para que a vida seja indispensável, porque é tudo e sagrada.
Adriano Nunes
Querido Adriano,
ResponderExcluirmuito obrigado pela sua crítica, tão sensível, perspicaz e generosa. Vou postá-la no portal do blog.
Abraço