12.9.12

Manuel Bandeira: "O espelho"




O espelho

Ardo em Desejo na tarde que arde!
Oh, como é belo dentro de mim
Teu corpo de ouro no fim da tarde:
Teu corpo que arde dentro de mim
Que ardo contigo no fim da tarde!

Num espelho sobrenatural,
No infinito (e esse espelho é o infinito?...)
Vejo-te nua, como num rito,
À luz também sobrenatural,
Dentro de mim, nua no infinito!

De novo em posse da virgindade,
- virgem, mas sabendo toda a vida -
No ambiente da minha soledade,
De pé, toda nua, na virgindade
Da revelação primeira da vida!



BANDEIRA, Manuel. "O ritmo dissoluto". In:_____. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.

6 comentários:

  1. Cicero,


    Poema muito belo! Salve Bandeira, um dos meus mestres! Grato por compartilhar essa pérola!



    Abraço forte,
    Adriano Nunes.

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  2. CICERO, gosto mto desse poema de Bandeira sobre o desejo. Todo vez q. o leio faça uma "ponte" com um de Maikovski no qual, este último no poema "Lênin" tem um trecho lá que diz mais ou menos assim "O ser humano é um barco, malgrado ainda viver no seco" (tradução livre feita por mim). Ou seja, será que não morremos neste seco da vida atual, já que somos um barco; será que não soçobramos mto mais - que temos um coração infinito diante das amarras sociais finitas, principalmente porque há em nós o desejo que é a própria revolta, o excesso contra tudo isso? (Rogério Lustosa Bastos)

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  3. ‎Cicero,

    O meu mais recente poema:

    "ego"

    esse estranho espectro
    que passa
    a vista através das vidraças
    da casa,
    que atravessa a avenida
    movimentada,
    carros, gente, gestos,
    gritos,
    algaravia vital, pulsátil,
    em direção à praça,
    que observa as vitrines,
    as camisas de outros
    times,
    que não dá a cara
    para a próxima porrada,
    que um dia desses
    entendeu o que é mesmo seu,
    a sua vibe,
    que vez ou outra lê
    the new york times,
    que aprendeu a dizer
    fim,
    look for me,
    find me,
    enfim,
    pasmo de si, sente
    - contente -
    que nada sabe. e

    vinga a ser
    esse estranho espectro
    que escapa
    sempre pela tangente
    mal calculada, que
    mergulhado no que pensa,
    naufraga,
    que faz versos, tenta
    moldar seu metro
    com o coração, pondo
    os sonhos no ralo ininterrupto
    do eu profundo,
    que não se redime
    da graça
    de não ter graça,
    que já deu de cara
    com tropeços,
    topadas,
    tormentos, tristezas,
    trapaças,
    tombos, quedas,
    risadas,
    que vive a ouvir
    caetano veloso,
    vê, agora, pouco
    a pouco,
    que não mais quer
    ser outro.


    Abraço forte,
    Adriano Nunes

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  4. AC: somente quem sofre tal perda consegue chegar a esta síntese mais do que perfeita.

    "Mãe Pai
    Céu Chão
    Mãe Céu
    Pai Xão"

    AC

    Parabéns pelo livro!

    Abraços

    Carlos

    Abraços,

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