Hoje, no dia D, de Drummond, um dos poemas que há mais tempo amo:
Inocentes do Leblon
Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.
ANDRADE, Carlos Drummond de. "Sentimento do mundo". In:_____.
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
Cicero,
ResponderExcluirsalve Drummond! Viva!
Um poema que fiz, para ele:
"Procura-se" - Para Carlos Drummond de Andrade
Há vinte e três anos sem
Vê-lo. Às vezes, ouço-o
Vindo do arcabouço
Da memória, alguém
Familiar, rosto bem
Típico, com traço
Moderno. (Refaço o
Seu trajeto) Além
Dos óculos, lápis, caço o
Algo que vai... Vem...
A vida é refém,
Claro enigma, laço
Infinito, intenso. Abraço-o,
Calados. No paço
Do livro, o embaraço...
E nada o detém:
Caminha (observo-o) mas quem
Ousaria... Quem?
E vemos o harém
Pelo inverso, baço.
Adriano Nunes
Abraços,
Adriano Nunes
Cícero, numa de suas letras, vc. faz uma citação a este poema. Por sinal, letra e música lindas.
ResponderExcluirDe certa forma, o poema continua atual, pois a mídia tem feito o papel de alienar as pessoas, que tornam-se se não inocentes, pelo menos anestesiados pelos ritmos, cores e sons de duvidosa qualidade.
Abs.
Ricardo Mainieri, que lembra de ti de uma palestra na terra de Baco, Bento Gonçalves, RS
Drummond encanta.
ResponderExcluirMuito bom relembrar Drummond, Cicero.
ResponderExcluirPostei o poema Eterno no meu blog.
http://poesiaemblog.blogspot.com/2011/10/eterno-e-como-ficou-chato-ser-moderno.html#links
Um abraço!
Que bom que ler exatamente o poema que esperava. Como mineiro, conterrâneo de Murilo Mendes e Rubem Fonseca, estado de Drrummond e Otto Lara, de perfil discreto, que aconselha mais ouvir do que falar, aos vir para o Rio de Janeiro, aos 13 anos, senti o centro gravitacional de uma maioria (não posso generalizar) no umbigo. E como escrevo e leio, sinto e aponto o “caminho do pânico” para certas manifestações (sem generalizar) “performáticas” que são confundidas com poesia no Rio de Janeiro. Não basta iventar em um dia uma gracinha, passar um óleo nas costas e bater tambor para chamar de arte. E vou contnuar dizendo o que penso, não há mal algum em estar equivocado. Mas meu paradigma, não canso de repetir. Poesia é lapidar a pedra, como diria JCMNeto. É processo doloroso, exaustivo, ao mesmo tempo divertido, imprevisível. E a realidade assim me afeta. São anos de Rede Globo capitaneando a produção cultural de massa. Mas, sei que outrora, dos grandes cronistas de jornais, intelectuais e dramaturgos, eu admirava mais a arte carioca. Para o exemplo do que chamo centro gravitacional no umbigo, guardo até hoje a piadinha que faziam na faculdade comigo. Para os cariocas imitarem o meu sotaque de mineiro, falavam como nordestino: “bichinho, não se aperreie, e que tais”. A alienação só englobava uns 3 mil quilômetros de ignorância. E quando vejo Alexandre Britto e os gaúchos, os paulistas, os nordestinos, imploro: vamos divulgar e aprender com o Brasil. Taí o desabafo que sempre quis fazer. Obrigado pela leitura, desculpe-me por qualquer inconveniência e sigamos em frente. Um abraço.
ResponderExcluirEu não sabia que tu tinhas blog! Ahora estoy aqui!
ResponderExcluirAdoro este poema também, sobretudo porque considero bastante enigmático os versos "mas a areia é quente,e há um óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem". Este "mas" me intriga muito. É como se Drummond estivesse dizendo que os "inocentes do Leblon" tudo ignoram e esquecem, no entanto ( sabem que?) a areia é quente. Qual o sentido deste saber que a areia é quente. Esquecem que a areia é quente, daí o fato de haver um óleo que eles passam nas costas, ou continuam a esquecer de tudo que não seja a areia quente? O que é estes saber ser a areia quente?
ResponderExcluirSalve drummond, salve musas, salve razão...
Beijo
ResponderExcluirA chuva cai
Lentamente
Gota a gota
Serenamente
Você me beijou
Tão sofregamente
Sinais antecipados de outra vida,
Há esse horizonte...
Seguindo, indiferente,
Rompendo o chão dormente
aqui, na mansidão da solidão,
lutando contra a morte
fazendo a vida ser mais forte
Entrevejo
Aquilo que mais almejo
Teu beijo.
A areia quente do Leblon. Aquele tempo que arde a pele. Ninguem esquece...
ResponderExcluiresses não sabem de vc... ;)
ResponderExcluirchute n'alma
ResponderExcluirchute bom
gol
Caro poeta, não conheço o Rio de Janeiro. De modo que a leitura da Ilustríssima de domingo revelou muito do que o poema sugere. Acho incrível essa intertextualidade do poema, de como, muitos anos depois de publicado, ele é modificado e intensificado por fatores externos. Um grande abraço!!
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