31.10.11

Carlos Drummond de Andrade: "Inocentes do Leblon"




Hoje, no dia D, de Drummond, um dos poemas que há mais tempo amo:




Inocentes do Leblon


Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.




ANDRADE, Carlos Drummond de. "Sentimento do mundo". In:_____. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

12 comentários:

  1. Cicero,

    salve Drummond! Viva!

    Um poema que fiz, para ele:

    ‎"Procura-se" - Para Carlos Drummond de Andrade

    Há vinte e três anos sem
    Vê-lo. Às vezes, ouço-o
    Vindo do arcabouço
    Da memória, alguém

    Familiar, rosto bem
    Típico, com traço
    Moderno. (Refaço o
    Seu trajeto) Além

    Dos óculos, lápis, caço o
    Algo que vai... Vem...
    A vida é refém,
    Claro enigma, laço

    Infinito, intenso. Abraço-o,
    Calados. No paço
    Do livro, o embaraço...
    E nada o detém:

    Caminha (observo-o) mas quem
    Ousaria... Quem?
    E vemos o harém
    Pelo inverso, baço.

    Adriano Nunes



    Abraços,
    Adriano Nunes

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  2. Cícero, numa de suas letras, vc. faz uma citação a este poema. Por sinal, letra e música lindas.
    De certa forma, o poema continua atual, pois a mídia tem feito o papel de alienar as pessoas, que tornam-se se não inocentes, pelo menos anestesiados pelos ritmos, cores e sons de duvidosa qualidade.

    Abs.

    Ricardo Mainieri, que lembra de ti de uma palestra na terra de Baco, Bento Gonçalves, RS

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  3. Muito bom relembrar Drummond, Cicero.

    Postei o poema Eterno no meu blog.

    http://poesiaemblog.blogspot.com/2011/10/eterno-e-como-ficou-chato-ser-moderno.html#links

    Um abraço!

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  4. Que bom que ler exatamente o poema que esperava. Como mineiro, conterrâneo de Murilo Mendes e Rubem Fonseca, estado de Drrummond e Otto Lara, de perfil discreto, que aconselha mais ouvir do que falar, aos vir para o Rio de Janeiro, aos 13 anos, senti o centro gravitacional de uma maioria (não posso generalizar) no umbigo. E como escrevo e leio, sinto e aponto o “caminho do pânico” para certas manifestações (sem generalizar) “performáticas” que são confundidas com poesia no Rio de Janeiro. Não basta iventar em um dia uma gracinha, passar um óleo nas costas e bater tambor para chamar de arte. E vou contnuar dizendo o que penso, não há mal algum em estar equivocado. Mas meu paradigma, não canso de repetir. Poesia é lapidar a pedra, como diria JCMNeto. É processo doloroso, exaustivo, ao mesmo tempo divertido, imprevisível. E a realidade assim me afeta. São anos de Rede Globo capitaneando a produção cultural de massa. Mas, sei que outrora, dos grandes cronistas de jornais, intelectuais e dramaturgos, eu admirava mais a arte carioca. Para o exemplo do que chamo centro gravitacional no umbigo, guardo até hoje a piadinha que faziam na faculdade comigo. Para os cariocas imitarem o meu sotaque de mineiro, falavam como nordestino: “bichinho, não se aperreie, e que tais”. A alienação só englobava uns 3 mil quilômetros de ignorância. E quando vejo Alexandre Britto e os gaúchos, os paulistas, os nordestinos, imploro: vamos divulgar e aprender com o Brasil. Taí o desabafo que sempre quis fazer. Obrigado pela leitura, desculpe-me por qualquer inconveniência e sigamos em frente. Um abraço.

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  5. Eu não sabia que tu tinhas blog! Ahora estoy aqui!

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  6. Adoro este poema também, sobretudo porque considero bastante enigmático os versos "mas a areia é quente,e há um óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem". Este "mas" me intriga muito. É como se Drummond estivesse dizendo que os "inocentes do Leblon" tudo ignoram e esquecem, no entanto ( sabem que?) a areia é quente. Qual o sentido deste saber que a areia é quente. Esquecem que a areia é quente, daí o fato de haver um óleo que eles passam nas costas, ou continuam a esquecer de tudo que não seja a areia quente? O que é estes saber ser a areia quente?
    Salve drummond, salve musas, salve razão...

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  7. Beijo

    A chuva cai
    Lentamente
    Gota a gota
    Serenamente
    Você me beijou
    Tão sofregamente
    Sinais antecipados de outra vida,
    Há esse horizonte...
    Seguindo, indiferente,
    Rompendo o chão dormente
    aqui, na mansidão da solidão,
    lutando contra a morte
    fazendo a vida ser mais forte
    Entrevejo
    Aquilo que mais almejo
    Teu beijo.

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  8. A areia quente do Leblon. Aquele tempo que arde a pele. Ninguem esquece...

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  9. Caro poeta, não conheço o Rio de Janeiro. De modo que a leitura da Ilustríssima de domingo revelou muito do que o poema sugere. Acho incrível essa intertextualidade do poema, de como, muitos anos depois de publicado, ele é modificado e intensificado por fatores externos. Um grande abraço!!

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