29.9.11

Charles Baudelaire: "À une passante" / "A uma passante": trad. de Ivan Junqueira




XCIII
A une passante

La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur [majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;

Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.

Un éclair... puis la nuit! - Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?

Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais
[peut-être!
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
O toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!


XCIII
A uma passante

A rua em torno era um frenético alarido.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão suntuosa
Erguendo e sacudindo a barra do vestido.

Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e
[fina.
Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia
No olhar, céu lívido onde aflora a ventania,
A doçura que envolve e o prazer que assassina.

Que luz... e a noite após! – Efêmera beldade
Cujos olhos me fazem nascer outra vez,
Não mais hei de te ver senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! "nunca" talvez!
Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,
Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!



BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Edição biligue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

4 comentários:

  1. Cicero,


    Amo essa tradução de "As Flores do Mal" por Ivan Junqueira. Acho que já disse aqui isso outra vez.. Baudelaire , um dos meus mestres!


    Abraço fraterno,
    Adriano Nunes

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  2. Esta é sua homenagem aos tradutores que tem seu dia de comemoração amanhã???
    :D
    Mesmo que não seja... homenagem maravilhosa!!!!

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  3. Caro Cícero,

    Tenho uma tradução do poema feita por Fernando Ribeiro também bastante interessante. Um abraço!


    A uma passante

    A ensurdecer, ao meu redor a rua urrava.
    Longa, esbelta, de luto, em dor majestosa
    Passa... uma mulher, e com a mão faustosa
    A orla do vestido alçando balançava;

    Ágil e nobre, com a sua perna de estátua.
    Eu lhe bebia, qual crispado extravagante,
    Em seu olho, um lívido céu trovejante,
    A doçura que encanta e o prazer que mata.

    Um clarão...noite após! Fugitiva beleza
    Que me fez com o olhar renascer de surpresa,
    Só hei de te rever na eternidade agora?

    Vai longe! Para sempre, talvez, foi-se embora!
    Aonde foste eu não sei, nem sabes aonde vou,
    Ah, tu que eu amaria, ah tu que o reparou !

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