26.4.11
Antonio Carlos Secchin: "De chumbo eram somente dez soldados"
De chumbo eram somente dez soldados
De chumbo eram somente dez soldados,
plantados entre a Pérsia e o sono fundo,
e com certeza o espaço dessa mesa
era maior que o diâmetro do mundo.
Aconchego de montanhas matutinas
com degraus desenhados pelo vento;
mas na lisa planície da alegria
corre o rio feroz do esquecimento.
Meninos e manhãs, densas lembranças
que o tempo contamina até o osso,
fazendo da memória um balde cego
vazando no negrume de um poço.
Pouco a pouco vão sendo derrubados
as manhãs, os meninos e os soldados.
SECCHIN, Antonio Carlos. Todos os ventos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
cicero,
ResponderExcluiré um privilégio para nós que aqui acessamos tê-lo como nosso "selecionador" de poemas. leio cada um como quem recebe um presente.
parece com um restaurante russo aqui de teresópolis, aonde cada prato que chega à mesa é sublime, especialmente preparado. seja poetas que conheço, seja os que nunca ouvi falar, seja aqueles que aqui postam nos comments: sempre é um prazer passar os olhos por aqui.
e esse texto é bárbaro!
abrçs.
Parabéns pelo espaço e pelos poemas da antologia 'Traçados Diversos'. Gostei especialmente de "Balanço", "O país das maravilhas" e "Dilema".
ResponderExcluirFica o convite para visitar meu espaço: www.im-postura.blogspot.com
Abraço
Obrigado, Nobile José. Também adoro esse poema do Secchin. Mas queria saber qual é o restaurante russo de que você fala. Quero conhecê-lo.
ResponderExcluirAbraço
cicero,
ResponderExcluiro restaurante que lhe falei é o dona irene: www.donairene.com.br
é mto legal. desde que me mudei pra cá, já fui umas duas vezes. e a vodka é ótima (rs).
abraço.
Meu querido poeta Antônio Cícero,
ResponderExcluirConvido você e seus leitores para as comemorações do segundo aniversário do blog Jazz + Bossa + Baratos Outros:
http://ericocordeiro.blogspot.com/
Um fraterno abraço e obrigado por compartilhar o seu talento e a sua sensibilidade conosco!
Cicero,
ResponderExcluirque poema belíssimo! fiquei encantado! deixo aqui o meu mais novo poema feito pra você:
"o lápis" - Para Antonio Cicero
o silêncio perdido
na sala... papéis?
seis contos de réis
compram todo olvido
enquanto decido
que cor tem o céu
de grafite. ao léu,
um giz branco, obtido
na escola, me diz
que eu era feliz.
(a nuvem não erra...
o lápis a encerra?)
num só movimento,
a minh'alma invento!
Ah, o mestre Secchin... sempre nos agraciando com belos versos.
ResponderExcluirLindíssimo soneto.
Obrigada, Cicero!
Beijo.
Obrigado, Nobile José. É mais uma razão para ir a Teresópolis: coisa que estou querendo fazer.
ResponderExcluirAbraço
Adriano,
ResponderExcluirObrigado pelo lindo poema.
Abraço
Belíssimo poema de Antonio Carlos Secchin, verdadeiramente magistral!
ResponderExcluirAdoro o trecho: "o espaço dessa mesa era maior que o diâmetro do mundo". Antonio multiplica Antonio nesse espaço virtual, maior, muito maior que o diâmetro do mundo... Sento-me à mesa e bebo dessa palavra viva!
Abraço,
Flávia Vieira
O genial do poema é o título. Percebam: por que não “Eram somente dez soldados de chumbo” ?
ResponderExcluirPorque aí a ênfase recairia sobre a quantidade, sobre a escassez de soldados, uma constatação até banal.
No entanto, quando digo “De chumbo eram somente dez soldados”, a ênfase se volta ao material de que eram feitos os soldados. Evidentemente, eram onze soldados, e apenas um não era de chumbo – era de carne e osso.
E se o tempo é inexorável com soldados de chumbo, que dirá com meninos de carne e osso, montanhas de vento e manhãs?
Assim, as manhãs, os meninos e os soldados pouco a pouco foram sendo derrubados. Mas renasceram, reerguidos, no papel, no corpo do poema.