21.4.10

Fernando Pessoa: "Os deuses são felizes"



O seguinte poema de Fernando Pessoa foi enviado ao blog pelo Aetano, a propósito da discussão sobre "Antony Flew e Deus":



Os deuses são felizes.
Vivem a vida calma das raízes.
Seus desejos o Fado não oprime.
Ou, oprimindo, redime
Com a vida imortal.
Não há
Sombras ou outros que os contristem.
E, além disto, não existem...




PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1988.

16 comentários:

  1. Só mesmo o génio do grande poeta que consegue desconcertar-nos com tão pouco, dizer tanto em tão poucas palavras!

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  2. Por não existirem
    Por serem imortais são felizes.

    Então, resta-nos alguma coisa.
    E penso nesses versos do pagão "decadente" (como diz Pessoa) Ricardo Reis que me responde:

    "Mas serenamente
    Imita o Olimpo
    No teu coração.
    Os deuses são deuses
    Porque não se pensam".

    Lindo demais!
    Valeu, Cicero.

    Grande abraço.

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  3. EPIFANIA

    deus criou o mundo em seis dias.
    no sétimo,
    o Homem criou deus.

    talvez ele exista
    a qualquer momento, nesse agora.

    talvez, adeus,
    morra nossa única morte

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  4. EPIFANIA

    deus criou o mundo em seis dias.
    no sétimo,
    o Homem criou deus.

    talvez ele exista
    a qualquer momento, neste agora.

    talvez, adeus,
    morra nossa única morte

    r.m.

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  5. deus é uma máscara de fernando pessoa, antônio cícero ?

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  6. Caro Cícero,

    Deus sempre gera debate no Acontecimentos. Esse, agora, já tem 45 comentários.
    Mas eu preferi o poema do Pessoa e os outros que o seguiram.
    E até me atrevo a postar um meu:

    "Logo após o templo ser abandonado,
    as árvores, plantas e ervas daninhas da floresta
    foram cobrindo de vegetação as ruínas de pedra
    e todo o relevo do santuário.

    Então, pequenos seres da mata, divinamente
    invisíveis e silenciosos, invadiram rastejando
    as câmaras vazias e substituíram os antigos
    deuses (que nem por isso ficaram humildes)".

    Abraço,
    JR.

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  7. este pra mim é o melhor poema sobre a errática e escoiceante ânsia de voo
    do homem atual, de quem foi tirado
    o quarto ponteiro omitido em todos os relógios: o da eternidade.
    agora que - como diz o capinejar -a "eternidade é mais breve do que a vida", quando nada se parece tanto com a eternidade quanto um segundo.
    um poema sobre o homem que,
    asa avulsa,
    é ferido pela agulha da ausência
    e ainda acometido da coceira de deus...


    O DEUS MAL-INFORMADO

    No caminho onde pisou um deus
    há tanto tempo que o tempo não lembra
    resta o sonho dos pés
    sem peso
    sem desenho.

    Quem passe ali, na fração de segundo,
    em deus se erige, insciente, deus faminto,
    saudoso de existência.

    Vai seguindo em demanda de seu rastro,
    é um tremor radioso, uma opulência
    de impossíveis, casulos do possível.

    Mas a estrada se parte, se milparte,
    a seta não aponta
    destino algum, e o traço ausente
    ao homem torna homem, novamente.

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

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  8. Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
    Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
    Por isso se nos não mostrou...

    Sejamos simples e calmos,
    Como os regatos e as árvores,
    E Deus amar-nos-á fazendo de nós
    Nós como as árvores são àrvores
    E como os regatos são regatos,
    E dar-nos-á verdor na sua primavera
    E um rio aonde ir ter quando acabemos...
    E não nos dará mais nada, porque dar-nos mais seria tirar-nos mais.

    Pessoa, Fernando
    Poesia/ Alberto Caeiro; edição Fernando Cabral Martins, Richard Zenith - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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  9. Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
    Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
    Por isso se nos não mostrou...

    Sejamos simples e calmos,
    Como os regatos e as árvores,
    E Deus amar-nos-á fazendo de nós
    Nós como as árvores são àrvores
    E como os regatos são regatos,
    E dar-nos-á verdor na sua primavera
    E um rio aonde ir ter quando acabemos...
    E não nos dará mais nada, porque dar-nos mais seria tirar-nos mais.

    Pessoa, Fernando
    Poesia/ Alberto Caeiro; edição Fernando Cabral Martins, Richard Zenith - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

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  10. Pode ser, Jarbas. Como pode ser que todas as pessoas sejam máscaras de Deus.

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  11. "O guardador de rebanhos _ IX", de Alberto Caeiro,

    SOU UM guardador de rebanhos.
    O rebanho é os meus pensamentos
    E os meus pensamentos são todos sensações.
    E com as mãos e os pés
    E com o nariz e a boca.
    Pensar uma flor é cheirá-la
    E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
    Por isso quando num dia de calor
    Me sinto triste de gozá-lo tanto.
    E me deito ao comprido na erva,
    E fecho os olhos quentes,
    Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
    Sei a verdade e sou feliz.


    Fernando Pessoa, "Ficções do interlúdio/1", Ed. Nova Fronteira/RJ-4ed/-1980.

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  12. Obrigado pela resposta, caro Antonio Cícero.Apaziguado.Sou ansioso, pensei que você ia me dar o espaço vazio como resposta.Meu abraço de estima e admiração.

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  13. DIVINA COMÉDIA [Antero de Quental]

    Erguendo os braços para o céu distante
    E apostrofando os deuses invisíveis
    Os homens clamam: - "Deuses impassíveis,
    A quem serve o destino triunfante.

    Porque e que nos criastes?! Incessante
    Corre o tempo e só gera, inextinguíveis,
    Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
    Num turbilhão cruel e delirante...

    Pois não era melhor na paz clemente
    Do nada e do que ainda não existe,
    Ter ficado a dormir eternamente?

    Por que é que para a dor nos evocastes?"
    Mas os deuses, com voz inda mais triste,
    Dizem: - "Homens! por que é que nos criastes?"
    Bruno M.C.

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  14. Adorei este poema - Pessoa parece inesgotável. Obrigada, Aetano, por oferecê-lo.

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