O seguinte poema de Fernando Pessoa foi enviado ao blog pelo Aetano, a propósito da discussão sobre "Antony Flew e Deus":Os deuses são felizes.
Vivem a vida calma das raízes.
Seus desejos o Fado não oprime.
Ou, oprimindo, redime
Com a vida imortal.
Não há
Sombras ou outros que os contristem.
E, além disto, não existem...
PESSOA, Fernando.
Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1988.
Só mesmo o génio do grande poeta que consegue desconcertar-nos com tão pouco, dizer tanto em tão poucas palavras!
ResponderExcluirPor não existirem
ResponderExcluirPor serem imortais são felizes.
Então, resta-nos alguma coisa.
E penso nesses versos do pagão "decadente" (como diz Pessoa) Ricardo Reis que me responde:
"Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam".
Lindo demais!
Valeu, Cicero.
Grande abraço.
EPIFANIA
ResponderExcluirdeus criou o mundo em seis dias.
no sétimo,
o Homem criou deus.
talvez ele exista
a qualquer momento, nesse agora.
talvez, adeus,
morra nossa única morte
EPIFANIA
ResponderExcluirdeus criou o mundo em seis dias.
no sétimo,
o Homem criou deus.
talvez ele exista
a qualquer momento, neste agora.
talvez, adeus,
morra nossa única morte
r.m.
deus é uma máscara de fernando pessoa, antônio cícero ?
ResponderExcluirCaro Cícero,
ResponderExcluirDeus sempre gera debate no Acontecimentos. Esse, agora, já tem 45 comentários.
Mas eu preferi o poema do Pessoa e os outros que o seguiram.
E até me atrevo a postar um meu:
"Logo após o templo ser abandonado,
as árvores, plantas e ervas daninhas da floresta
foram cobrindo de vegetação as ruínas de pedra
e todo o relevo do santuário.
Então, pequenos seres da mata, divinamente
invisíveis e silenciosos, invadiram rastejando
as câmaras vazias e substituíram os antigos
deuses (que nem por isso ficaram humildes)".
Abraço,
JR.
este pra mim é o melhor poema sobre a errática e escoiceante ânsia de voo
ResponderExcluirdo homem atual, de quem foi tirado
o quarto ponteiro omitido em todos os relógios: o da eternidade.
agora que - como diz o capinejar -a "eternidade é mais breve do que a vida", quando nada se parece tanto com a eternidade quanto um segundo.
um poema sobre o homem que,
asa avulsa,
é ferido pela agulha da ausência
e ainda acometido da coceira de deus...
O DEUS MAL-INFORMADO
No caminho onde pisou um deus
há tanto tempo que o tempo não lembra
resta o sonho dos pés
sem peso
sem desenho.
Quem passe ali, na fração de segundo,
em deus se erige, insciente, deus faminto,
saudoso de existência.
Vai seguindo em demanda de seu rastro,
é um tremor radioso, uma opulência
de impossíveis, casulos do possível.
Mas a estrada se parte, se milparte,
a seta não aponta
destino algum, e o traço ausente
ao homem torna homem, novamente.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
ResponderExcluirPorque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Nós como as árvores são àrvores
E como os regatos são regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera
E um rio aonde ir ter quando acabemos...
E não nos dará mais nada, porque dar-nos mais seria tirar-nos mais.
Pessoa, Fernando
Poesia/ Alberto Caeiro; edição Fernando Cabral Martins, Richard Zenith - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
ResponderExcluirPorque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Nós como as árvores são àrvores
E como os regatos são regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera
E um rio aonde ir ter quando acabemos...
E não nos dará mais nada, porque dar-nos mais seria tirar-nos mais.
Pessoa, Fernando
Poesia/ Alberto Caeiro; edição Fernando Cabral Martins, Richard Zenith - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Pode ser, Jarbas. Como pode ser que todas as pessoas sejam máscaras de Deus.
ResponderExcluir"O guardador de rebanhos _ IX", de Alberto Caeiro,
ResponderExcluirSOU UM guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Fernando Pessoa, "Ficções do interlúdio/1", Ed. Nova Fronteira/RJ-4ed/-1980.
Obrigado pela resposta, caro Antonio Cícero.Apaziguado.Sou ansioso, pensei que você ia me dar o espaço vazio como resposta.Meu abraço de estima e admiração.
ResponderExcluirDIVINA COMÉDIA [Antero de Quental]
ResponderExcluirErguendo os braços para o céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis
Os homens clamam: - "Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante.
Porque e que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inextinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
Num turbilhão cruel e delirante...
Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?
Por que é que para a dor nos evocastes?"
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: - "Homens! por que é que nos criastes?"
Bruno M.C.
Adorei este poema - Pessoa parece inesgotável. Obrigada, Aetano, por oferecê-lo.
ResponderExcluira poesia existe, graças ateus!
ResponderExcluirLindo!
ResponderExcluirGrande Abraço!