1.2.10
Constantinos Caváfis: "Θυμήσου, σώμα" / "Lembra, corpo": trad. de Ísis Borges da Fonseca
Lembra, corpo
Corpo, lembra não só quanto foste amado,
não somente os leitos em que deitaste,
mas também aqueles desejos que por ti
brilhavam nos olhos claramente,
e que tremiam na voz – e que algum
obstáculo fortuito frustrou.
Agora que tudo já está no passado,
parece, quase, que àqueles desejos também
tu te entregaste – como eles brilhavam,
lembra, nos olhos que te contemplavam;
como tremiam na voz, por ti, lembra, corpo.
Θυμήσου, σώμα
Σώμα, θυμήσου όχι μόνο το πόσο αγαπήθηκες,
όχι μονάχα τα κρεββάτια όπου πλάγιασες,
αλλά κ' εκείνες τες επιθυμίες που για σένα
γυάλιζαν μες στα μάτια φανερά,
κ' ετρέμανε μες στη φωνή -- και κάποιο
τυχαίον εμπόδιο τες ματαίωσε.
Τώρα που είναι όλα πια μέσα στο παρελθόν,
μοιάζει σχεδόν και στες επιθυμίες
εκείνες σαν να δόθηκες -- πώς γυάλιζαν,
θυμήσου, μες στα μάτια που σε κύτταζαν·
πώς έτρεμαν μες στη φωνή, για σε, θυμήσου, σώμα.
CAVÁFIS, Constantinos. Poemas de K. Kaváfis. Tradução de Ísis Borges da Fonseca. São Paulo: Odysseus, 2006.
Maravilha! Faz coro com "Um Velho" (1897)
ResponderExcluiré curioso que o corpo sumido não possa ser esquecido, e o enterrado possa.
ResponderExcluirCicero,
ResponderExcluirUau! Muito lindo! Muito mesmo! Amo Caváfis! Grato!
Um soneto novo que fiz sobre o amor e poemas:
"Ao fim da alegoria"
Imenso amor eu sinto
Rasgar meu peito agora,
Alargando o lá fora,
Formando um labirinto
Dentro de mim. A vida
Foge ao primeiro toque
E nada quer que eu foque,
Presta-se a ser olvida.
Somente uma alegria
Vinga ainda suprema:
Construir um poema
Descrevendo tal tema.
Que mal me afetaria
Ao fim da alegoria?
Grande abraço,
Adriano Nunes.
O corpo, vivo; o desejo; morto.
ResponderExcluirBelíssimo!
Beijo,
Ane
Leve como a folha que cai
ResponderExcluirÉ assim que se esvai
Meu corpo
E mais
As flores
Belas, sem iguais (rivais),
Florindo e rindo
A não poder mais
Beijos, papoulas,
Beijos, orquídeas,
Tão bela é a vida
Quanto seus quintais
E breve como a cor que fica
Na borda dos pincéis
Meu corpo é teu porto
Abrigo na beira do cais.
Lindo de morrer!
ResponderExcluirde um corpo a outro.
ResponderExcluira lembrança presente dos tremores do corpo que ainda se sente.
Há na poesia e ENTRE os corpos uma direção impressionante que ultrapassa qualquer barreira, qualquer ilusão.
Cicero, uma vez escrevi:
"é quando me volto para mim
e porque saio de mim evaporando
torno úmido seu corpo que escrevo"
Adorei a leitura!
Abraços.
Jefferson.
Caro Cícero,
ResponderExcluirBonito, porque ao dialogar com o próprio corpo, o poeta deixa claro o livre arbítrio deste.
Abraço,
JR.
a memória em frente e integrada ao decomposto. preciso! e muito bom.
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