17.11.09

Weydson Barros Leal: "A praia"




A praia


Naquele tempo, o amor era um rio vertical
quando o corpo o bebia como uma boca marinha.
Os relógios não sabiam que suas espadas
contavam os mortos de cada farol, de cada
promessa, e que o tempo era só essa miragem -
a sede adiada da verdade. Ela perguntava:
"Você me ama ainda?", e tudo tremia
como um mapa de areia num barco de sal,
como um fogo esquecido na gruta do mar.
Às vezes, dizia: "Você nunca amou ninguém,
não sabe que o amor é uma coisa viva..."
Mas não via que o amor era o naufrágio
que alcançara a mesma praia
onde agora explodia a tempestade.



LEAL, Weydson Barros. A quarta cruz. Rio de Janeiro: Topbooks, 2009.

6 comentários:

  1. Intenso, Cícero.

    Bonito mesmo.

    Não costumo fazer isso porque não fico confortável, mas vou postar um poema aqui. Se você puder me dizer o que achou ficarei feliz.

    Grande Abraço!

    Aí vai:

    A mesma cor

    A mesma cor se repete,
    incessante,
    sem que eu possa interferir.

    Nem ventos, nem folhas
    caindo, caídas,
    nem janela aberta
    pro dia carecem
    da minha opinião.

    Talvez a vida
    nos seja apenas
    um grito
    ao pé do ouvido.

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  2. Obrigado, Robson, gostei do seu poema. Parabéns.

    Abraço

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