9.9.09

Francisco de Sá de Miranda: Trova





Comigo me desavim,
sou posto em todo perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,
antes que esta assim crescesse:
agora já fugiria
de mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo
tamanho imigo de mim?




SÁ DE MIRANDA, Francisco de. "Trovas à maneira antiga". Obras completas. Lisboa: Sá da Costa, 1976.

16 comentários:

  1. Que bom voltar aos cl´+assicos, não é mesmo? Um abraço

    ResponderExcluir
  2. Cicero,


    Belíssimo! Grato!


    Grande abraço,
    Adriano Nunes.

    ResponderExcluir
  3. "O diálogo filosófico se faz um diálogo não monológico; ele é perfeitamente dialógico, o ponto de encontro entre perspectivas filosóficas diferentes que se entrecruzam e se influenciam reciprocamente. Eu gosto de dizer que em filosofia o seu melhor amigo é o seu mais duro inimigo. Na filosofia você precisa dialogar com aquele que está o mais distante possível da sua posição, ou você corre o risco de a sua filosofia tornar-se uma ideologia". (Bento Prado Júnior)

    ResponderExcluir
  4. Prezado Cícero,
    É impressionante na poesia que alguém vivendo entre os séculos XV e XVI faça um poema que poderia ser sido feito na semana passada, e seria moderno (será isso um clássico ?).
    Aliás, no poema do Ivan Junqueira que voce postou anteriormente, encontro a mesma repartição do ser.
    Abraço,
    JR.

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. João Renato,

    esse poema confirma a tese de Pound que gosto de citar: "Um clássico é clássico não porque se conforme a certas regras estruturais ou se adeque a certas definições (de que o seu autor muito provavelmente nunca ouviu falar). É clássico por causa de certo frescor eterno e irreprimível".

    Abraço

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  8. Rimas poéticas trazem sempre uma sensação da poesia mais sagrada
    Seis sílabas fica lindo assim
    Prazer

    ResponderExcluir
  9. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  10. paulinho (paulo sabino)10 de setembro de 2009 às 16:26

    este poema é lindo demais!

    bethânia, em 67 se não me engano, extraiu o primeiro verso dessa poesia para dar nome a um dos seus espetáculos: "comigo me desavim".

    tão bonitas... as linhas sempre me lembram pessoa. tanto é que, antes de saber o nome do seu autor, eu "tinha certeza" de que os versos eram do pessoa (rs rs).

    delícia encontrá-los, os versos, aqui! um achado!

    beijú!

    ResponderExcluir
  11. Grande, sensacional. Maior angústia do mundo. Tin-tin.

    ResponderExcluir
  12. Saudade

    Da flor erguida
    Em meio à incerteza
    Das cores
    Que enaltecem sua alteza
    O pedregulho
    Orgulho
    Fidalguia dos
    Rancores
    Jamais superados
    Em meio ao perfume
    Da flor do amor
    Mesmo vagalume
    Em transes de
    Portais lembrados
    Umbrais
    Por vezes ultrapassados
    E por isso tão amados.

    ResponderExcluir
  13. Antonio,


    Essencial!


    ***SILÊNCIO DE SILÍCIO***


    Outro grito
    De granito,
    Na garganta,
    Se agiganta.


    Vasto uivo
    Vocativo
    De silício
    Do silêncio.


    Sem limite,
    A laringe
    De grafite
    Tudo atinge.


    Frágil dita,
    De palavra
    A palavra,
    Infinita.



    Beijo,
    Cecile.

    ResponderExcluir
  14. Adoro as suas escolhas.
    Esse poema acordou a voz de José de Almada Negreiros em mim, não resisto e trago-a aqui.
    Beijos

    A sombra sou eu

    A minha sombra sou eu,
    ela não me segue,
    eu estou na minha sombra
    e não vou em mim.
    Sombra de mim que recebo a luz,
    sombra atrelada ao que eu nasci,
    distância imutável de minha sombra a mim,
    toco-me e não me atinjo,
    só sei do que seria
    se de minha sombra chegasse a mim.
    Passa-se tudo em seguir-me
    e finjo que sou eu que sigo,
    finjo que sou eu que vou
    e não que me persigo.
    Faço por confundir a minha sombra comigo:
    estou sempre às portas da vida,
    sempre lá, sempre às portas de mim!

    José de Almada Negreiros

    ResponderExcluir
  15. É, Sá de Miranda realmente fez um poema atemporal e muito bom!!!!

    abraços

    ResponderExcluir
  16. Que linda escolha, Cicero!

    muitos perigos cercam..os perigos "de mim" são os maiores. Lindo mesmo!

    Um abraço.
    Jefferson

    ResponderExcluir