Comigo me desavim,
sou posto em todo perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.
Com dor, da gente fugia,
antes que esta assim crescesse:
agora já fugiria
de mim, se de mim pudesse.
Que meio espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo
tamanho imigo de mim?
SÁ DE MIRANDA, Francisco de. "Trovas à maneira antiga".
Obras completas. Lisboa: Sá da Costa, 1976.
Que bom voltar aos cl´+assicos, não é mesmo? Um abraço
ResponderExcluirCicero,
ResponderExcluirBelíssimo! Grato!
Grande abraço,
Adriano Nunes.
"O diálogo filosófico se faz um diálogo não monológico; ele é perfeitamente dialógico, o ponto de encontro entre perspectivas filosóficas diferentes que se entrecruzam e se influenciam reciprocamente. Eu gosto de dizer que em filosofia o seu melhor amigo é o seu mais duro inimigo. Na filosofia você precisa dialogar com aquele que está o mais distante possível da sua posição, ou você corre o risco de a sua filosofia tornar-se uma ideologia". (Bento Prado Júnior)
ResponderExcluirPrezado Cícero,
ResponderExcluirÉ impressionante na poesia que alguém vivendo entre os séculos XV e XVI faça um poema que poderia ser sido feito na semana passada, e seria moderno (será isso um clássico ?).
Aliás, no poema do Ivan Junqueira que voce postou anteriormente, encontro a mesma repartição do ser.
Abraço,
JR.
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ResponderExcluirJoão Renato,
ResponderExcluiresse poema confirma a tese de Pound que gosto de citar: "Um clássico é clássico não porque se conforme a certas regras estruturais ou se adeque a certas definições (de que o seu autor muito provavelmente nunca ouviu falar). É clássico por causa de certo frescor eterno e irreprimível".
Abraço
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ResponderExcluirRimas poéticas trazem sempre uma sensação da poesia mais sagrada
ResponderExcluirSeis sílabas fica lindo assim
Prazer
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ResponderExcluireste poema é lindo demais!
ResponderExcluirbethânia, em 67 se não me engano, extraiu o primeiro verso dessa poesia para dar nome a um dos seus espetáculos: "comigo me desavim".
tão bonitas... as linhas sempre me lembram pessoa. tanto é que, antes de saber o nome do seu autor, eu "tinha certeza" de que os versos eram do pessoa (rs rs).
delícia encontrá-los, os versos, aqui! um achado!
beijú!
Grande, sensacional. Maior angústia do mundo. Tin-tin.
ResponderExcluirSaudade
ResponderExcluirDa flor erguida
Em meio à incerteza
Das cores
Que enaltecem sua alteza
O pedregulho
Orgulho
Fidalguia dos
Rancores
Jamais superados
Em meio ao perfume
Da flor do amor
Mesmo vagalume
Em transes de
Portais lembrados
Umbrais
Por vezes ultrapassados
E por isso tão amados.
Antonio,
ResponderExcluirEssencial!
***SILÊNCIO DE SILÍCIO***
Outro grito
De granito,
Na garganta,
Se agiganta.
Vasto uivo
Vocativo
De silício
Do silêncio.
Sem limite,
A laringe
De grafite
Tudo atinge.
Frágil dita,
De palavra
A palavra,
Infinita.
Beijo,
Cecile.
Adoro as suas escolhas.
ResponderExcluirEsse poema acordou a voz de José de Almada Negreiros em mim, não resisto e trago-a aqui.
Beijos
A sombra sou eu
A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!
José de Almada Negreiros
É, Sá de Miranda realmente fez um poema atemporal e muito bom!!!!
ResponderExcluirabraços
Que linda escolha, Cicero!
ResponderExcluirmuitos perigos cercam..os perigos "de mim" são os maiores. Lindo mesmo!
Um abraço.
Jefferson