1.7.09

"Meio-fio"

Atendendo à sugestão do Paulinho, eis o poema que digo no post anterior.



MEIO-FIO

Domingo à noite, ao cinema,
à comédia americana
do Roxy, em Copacabana:
Que melhor estratagema
para vencer a acedia
domingueira, num programa –
sonorama, cinerama –
com um toque de nostalgia,
drops e ar condicionado,
e um trailer, de aperitivo
(que filme é mais incisivo
que o somente insinuado?)

Mas, na Barão de Ipanema
com a Domingos Ferreira,
eis que fazemos besteira,
a um quarteirão do cinema:
é que, à procura de vaga,
não vemos que vem um carro
na transversal, e o esbarro
não é grande mas estraga
os planos. Resta esperar
ao meio-fio a perícia.
Mas a noite, com a malícia
e a fluidez de um jaguar,
nada espera. Da Avenida
Atlântica, a maresia,
cio noturno, alicia
para outras eras da vida.

13 comentários:

  1. Que poema saboroso. Tantas portas. Bacana poder comparar entre o lido e o ouvido, experiências distintas.

    ResponderExcluir
  2. Prezado Cícero,
    Ainda que vê-lo e ouvi-lo dizer o poema seja interessante pelas entonações e pela proximidade com o autor que o vídeo nos dá, ler é muito melhor.
    Para mim, a compreensão da poesia tem na leitura seu tempo mais apropriado.
    Como ex-carioca da Tijuca, radicado há muito em São Paulo, adorei o clima "zona sul" do poema.
    Abraço,
    JR.

    ResponderExcluir
  3. ô, meu amor,

    valeu pelo poema!

    concordo com o marcelo pereira: ler o poema é uma experiência, ouvir você recitando-o é outra, e ouvir você durante a leitura dos versos é uma terceira.

    e: TODAS ÓTIMAS!

    maravilha, meu poeta porreta!

    ganhamos todos!

    beijo, minha lindeza!

    ResponderExcluir
  4. Lindo poema! Maravilhoso ouvi-lo.
    Com admiração sincera.
    Rogéria.

    ResponderExcluir
  5. Cicero,


    Perfeito! Excelente! E essa construção quebrada dos versos, dando duplo sentido, feito o trânsito, dupla-mão, as sete sílabas tônicas deixando o leitor atônito, perdido, como se estivesse para atravessar a rua! (Ou ir ao cinema também?) Uau! Tudo perfeito! Excelente! Gostei dos deslocamentos silábicos - amplamente musical!



    Abração!
    Adriano Nunes.

    ResponderExcluir
  6. Querido Cicero,

    uau, que poema belo. De fato, ler e ouvir são experiências distintas - só que, nesse caso, não menos excitantes.

    Beijo grande.

    ResponderExcluir
  7. Muito obrigado aos comentários tão generosos de vocês.
    Abraços

    ResponderExcluir
  8. Cicero,


    Um dos meus poemas concretos:


    "RAIO-X" (DE ADRIANO NUNES) - PARA AUGUSTO DE CAMPOS.


    atra
    ves


    (so
    me


    u
    ser)


    por
    dentro


    da
    máquina


    es
    pe


    (re
    vê-


    lo
    a


    go
    ra)


    ro
    (to


    do)
    em


    um
    filme


    em
    preto


    e
    branco


    r(e)sta
    vel


    ar(o)
    plano


    gás
    vísceras


    ossos
    em


    contras
    te.



    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

    ResponderExcluir
  9. Cicero,

    Gostaria de explicar a parte relativa à Medicina do meu poema, para que fique clara a sua construção: uma radiografia do corpo humano compreende uma leitura das densidades das estruturas do corpo, isto é, quanto mais sólido e rígido, mais radiopaco é o corpo, logo na "chapa" ou "filme" da radiografia, esse corpo aparece branco. Quanto menos denso: líquidos, gases, mais radiotransparente, logo aparece mais escuro, preto. A construção do poema se baseia nisso e na emissão das partículas (no caso, as sílabas das palavras).


    Muito obrigado!
    Abração!
    Adriano Nunes.

    ResponderExcluir
  10. tão bonito ouvi-lo!!
    traz sua música do poema.

    ResponderExcluir
  11. `maresia, cio noturno`! perfeito, genial!

    ResponderExcluir