16.6.09

Hans Magnus Enzensberger: de "Rebus": tradução de Samuel Titan

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Hábitos


Quantas vezes Platão assoou o nariz,
e São Tomás de Aquino
tirou os sapatos,
quantas vezes Einstein escovou os dentes,
e Kafka ligou e desligou a luz,
antes de enfim chegarem
ao que lhes cabia fazer?

Semanas sem fim, feitas as contas,
levamos
abotoar e desabotoar camisas,
procurar os óculos
ou, tomada a decisão,
novamente descartá-la.

Como são efêmeras as nossas opiniões
e as nossas obras, em comparação
com aquilo que nos é comum:
cozinhar, lavar a roupa, subir escadas –
repetições de pouco relevo,
pacíficas, corriqueiras
e mais indispensáveis que qualquer chef d'oeuvre.





Angewohnheiten

Wie oft mußte Plato sich schneuzen,
der heilige Thomas von Aquin
seine Schuhe ausziehen,
Einstein sich die Zähne putzen,
Kafka das Licht ein- und ausschalten,
bevor sie zu dem kamen,
was ihnen aufgetragen war?

Ganze Wochen, aufs ganze gesehen,
bringen wir damit zu,
unsere Hemden auf- und zuzuknöpfen,
unsere Brillen zu suchen
oder das, was wir zu uns nahmen,
wieder auszuscheiden.

Wie flüchtig sind unsere Meinungen
und unsere Werke, verglichen mit dem,
was wir miteinander teilen:
Kochen, Waschen, Treppensteigen –
unscheinbare Wiederholungen,
die friedlich sind, gewöhnlich
und unentbehrlicher als jedes chef d’oeuvre.




De: ENZENSBERGER, Hans Magnus. Rebus. Frankfurt: Suhrkamp, 2009.

12 comentários:

  1. Que delícia de verdade.

    E provocando um pouco:

    Quantos realismos foram necessários para que Monet, Renoir, Degas e Van Gogh chegassem ao impressionismo?

    Adoro as provocações que encontro por aqui.

    Abraços

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  2. CICERO,

    Lindo!

    Meu novo poema:

    "AVULSA" (PARA ARNALDO ANTUNES)


    A noite terminou
    Triste, sem uma estrela,
    Fugaz e sem fulgor.
    Entre as trevas que invento,


    A lua. Posso vê-la
    Lutando contra o tempo,
    Escondendo-se agora,
    No horizonte, engolida


    Pelas horas, expulsa
    Da calota, da vida
    Do dia que a devora.
    A noite esvai-se avulsa.



    Abraço forte!
    Adriano Nunes.

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  3. Me lembrei agora de um filme quase trash chamado "A mosca". O personagem principal era um cientista. Quando ele abria o guarda roupa, víamos que todas as suas vestimentas eram iguais: isso era uma sugestão que ele não poderia perder tempo escolhendo o que vestir, pois o tempo é precioso e ele teria que usá-lo ao máximo para pensar. Uma visão oposta ao poema... Parabéns, Cícero, por mais uma transcriação (conforme vc me ensinou noutro comment, que Augusto chama de transcriação a tradução de um poema)!

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  4. dessas coisas que nos são comuns, como olhar um poste de luz, brotam todas as outras, como fotografar esse mesmo poste, e a partir dele pensar uma poesia efêmera.
    http://triagem.blogspot.com/2009/06/cuesco-blanco-amarilla-luz-tumor-marron.html

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  5. Emerson,

    obrigado, mas os parabéns devem ir para o Samuel Titan, que foi quem transcriou o poema.

    Abrço

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  6. on,

    Dizem que Einstein tinha um guarda roupas tal como o personagem de A Mosca.

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  7. Sério, Marcelo? Nunca tinha ouvido falar nisso, mas é muito interessante. Pode ter vindo daí a idéia de se representar isso num filme. Cícero, vi agora: Parabéns ao Samuel Titan, então! Ana Clara, muito legal essa sua foto com a strato vermelha! Abraços a todos.

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  8. num nível mais "inferior", o mesmo se pode notar em relação aos personagens das histórias infantis: lembro-me de pensar se a cinderela nunca ía à casa-de-banho...

    (nesse contexto, os filmes não-disney, como o shrek, são óptimos: o personagem principal, arrota, dá puns... enfim, é quase "normal"!)

    abraço!

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  9. Antonio,

    Pérola!

    um poema:

    ***POEMA SECO***


    Eis minha vida,
    Dilacerada
    Pelos meus sonhos,
    Ardendo em versos.


    Tudo que quis,
    De que me vale
    Agora? Canto
    A minha dor.


    Vibra, sozinha,
    Outra canção,
    Nesta manhã
    Triste, sem tez.


    Tudo suporto.
    Tudo se esconde
    Dentro de mim.
    Ai, coração!


    Beijos,
    Cecile.

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  10. coisa linda este poema, meu poeta porreta!

    quanta constatação boa, bacana de se ler!

    amei!

    beijo grande, moço bonito!

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