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Vandalismo
Meu coração tem catedrais imensas,
templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas,
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos templários medievais,
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos...
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
De: ANJOS, Augusto dos. Toda poesia. Com estudo crítico de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
li até decorar. muito lol esse augusto que de anjo e de augusto tinha muito pouco.
ResponderExcluirAntonio,
ResponderExcluirAdoro Augusto dos Anjos: vejo que os seus sonetos são bastante trabalhados, sonoros, intensos e dramáticos. O Arnaldo Antunes inclusive já musicou um deles: "Budismo Moderno" cuja música é belíssima assim como o soneto. Também adoro, assim como o Adriano Nunes, o soneto "A Esperança". Vou postar aqui os dois sonetos:
"A ESPERANÇA"
A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!
"Budismo Moderno"
Composição: Arnaldo Antunes / Augusto dos Anjos
Tome, Dr., essa tesoura, e... corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo meu coração, depois da morte?!
Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
Também, das diatomáceas da lagoa
A criptógama cápsula se esbroa
Ao contacto de bronca dextra forte!
Dissolva-se, portanto, minha vida
Igualmente a uma célula caída
Na aberração de um óvulo infecundo;
Mas o agregado abstracto das saudades
Fique batendo nas perpétuas grades
Do último verso que eu fizer no mundo!
E POR FIM, UM SONETO QUE FIZ PARA VOCÊ, GRANDE LUZ!
***DO PRANTO PULSÁTIL*** (PARA ANTONIO CICERO)
Provo do teu pranto
Quando vais embora.
Tudo me apavora,
Mas nunca sei quanto
Da vida em mim fica.
Uma grande dúvida:
Sou louca? Sou lúcida?
Pública ou pudica?
Assim me recolho
Dentro desse cofre
Fechado à ferrolho,
Que se abre, de chofre,
Para qualquer olho
Que chora, que sofre.
BEIJOS,
CECILE.
Antonio,
ResponderExcluirDesculpe: no verso FECHADO A FERROLHO, do meu soneto, não há crase! Pressa da digitação!
Beijos,
Cecile.
Assim vamos "desaprendendo"...é muito bom esse poema. Valeu!
ResponderExcluirCaro Cícero, postei um poema seu no meu blog. Espero que goste.
Um abraço.
Jefferson.
Jefferson,
ResponderExcluirmuito obrigado. Gostei muito da sua leitura do meu poema. Para quem quiser ver, o endereço é: http://jeffersonbessa2.blogspot.com/.
Abraço
lindo poema, cicero!
ResponderExcluirmuito elegante, classudo, cheio de requinte.
o título também é ótimo, porque o substantivo, "vandalismo", apesar de ter tudo a ver com o que dizem os versos, não sugere, em termos estéticos, nada do que se vê/lê nos versos, tão bonitos, tão cheios de garbo, de português requintado.
(o escrito acima é uma bobagem, é apenas uma constatação, muitíssimo pessoal, de algo que não tem a menor importância - rs.)
beijo, riqueza!
O poema é iconoclasta, dá até para ouvir o estilhaçar das imagens dos seus sonhos. Lindo!
ResponderExcluirEspetacular !!!
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