25.5.09

António Machado: "Al gran cero" / "Ao grão-zero"

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Ao grão-zero


Quando o Ser que se é fez o nada
e repousou, que bem o merecia,
já teve o dia noite, e companhia
teve o homem na ausência da amada.

Fiat umbra! Brotou o pensar humano.
e o ovo universal alçou, vazio,
já sem cor, dessubstanciado e frio,
cheio de leve névoa em sua mão.

Toma o zero integral, a oca esfera
que hás de olhar, se o hás de ver, erguido.
Hoje, que está ereto o lombo de tua fera

e está o milagre do não-ser cumprido,
brinda, poeta, um canto de fronteira
à morte, ao silêncio e ao olvido.



Al gran cero


Cuando el Ser que se es hizo la nada
y reposó, que bien lo merecía,
ya tuvo el día noche, y compañía
tuvo el hombre en la ausencia de la amada.

¡Fiat umbra! Brotó el pensar humano.
Y el huevo universal alzó, vacío,
ya sin color, desustanciado y frío,
lleno de niebla ingrávida, en su mano.

Toma el cero integral, la hueca esfera
que has de mirar, si lo has de ver, erguido.
Hoy que es espalda el lomo de tu fiera,

y es el milagro del no ser cumplido,
brinda, poeta, un canto de frontera
a la muerte, al silencio y al olvido.


MACHADO, António. In: Obras: poesía y prosa. Buenos Aires: Losada, 1973.

6 comentários:

  1. Caro Antonio Cícero,

    belíssimo requiem este de António Machado. Obrigado pela sua tradução e publicação.

    Domingos da Mota

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  2. caio
    na rua, no sofá, na tv
    passo meus passos no chão
    pq quero te ver
    vc nunca diz que já
    era nem mesmo pq
    me bota no banco da espera
    pq quero vc

    caio
    na sua conversa q não quer dizer
    aquela questão bem antiga
    entre o ser e o não ser
    sobro sobre a estante
    no instante de ler
    e trago os marangos
    mofados q guardei pra vc

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  3. LINNNNNNNDO!!

    lembrou-me isto aqui:

    "menino deus
    um corpo azul dourado
    um porto alegre é bem mais que um seguro
    na rota das nossas viagens no escuro" (caetano veloso)

    o que "o ser que se é" produziu foi um nada, um escuro, um obscuro, o qual herdamos bilhões e bilhões de anos mais tarde. o ovo universal, isto é, o ovo cósmico, a oca esfera, o zero integral.

    enquanto assim o for, sigo cantando com o mano caetano, aguardando este momento, o momento em que os breus se iluminem e haja, pela luz lançada aqui, um lapso que nos permitirá a compreensão disto tudo:

    "menino deus
    quando tua luz se acenda
    a minha voz comporá tua lenda
    e por um momento haverá mais futuro do que jamais houve"

    é isso.

    beijo, meu amor!

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  4. Antonio Cícero,

    Que poema brilhante! Que lição!

    Abs

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