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Ao grão-zero
Quando o Ser que se é fez o nada
e repousou, que bem o merecia,
já teve o dia noite, e companhia
teve o homem na ausência da amada.
Fiat umbra! Brotou o pensar humano.
e o ovo universal alçou, vazio,
já sem cor, dessubstanciado e frio,
cheio de leve névoa em sua mão.
Toma o zero integral, a oca esfera
que hás de olhar, se o hás de ver, erguido.
Hoje, que está ereto o lombo de tua fera
e está o milagre do não-ser cumprido,
brinda, poeta, um canto de fronteira
à morte, ao silêncio e ao olvido.
Al gran cero
Cuando el Ser que se es hizo la nada
y reposó, que bien lo merecía,
ya tuvo el día noche, y compañía
tuvo el hombre en la ausencia de la amada.
¡Fiat umbra! Brotó el pensar humano.
Y el huevo universal alzó, vacío,
ya sin color, desustanciado y frío,
lleno de niebla ingrávida, en su mano.
Toma el cero integral, la hueca esfera
que has de mirar, si lo has de ver, erguido.
Hoy que es espalda el lomo de tu fiera,
y es el milagro del no ser cumplido,
brinda, poeta, un canto de frontera
a la muerte, al silencio y al olvido.
MACHADO, António. In: Obras: poesía y prosa. Buenos Aires: Losada, 1973.
Este poema é gran-dioso!
ResponderExcluirCaro Antonio Cícero,
ResponderExcluirbelíssimo requiem este de António Machado. Obrigado pela sua tradução e publicação.
Domingos da Mota
caio
ResponderExcluirna rua, no sofá, na tv
passo meus passos no chão
pq quero te ver
vc nunca diz que já
era nem mesmo pq
me bota no banco da espera
pq quero vc
caio
na sua conversa q não quer dizer
aquela questão bem antiga
entre o ser e o não ser
sobro sobre a estante
no instante de ler
e trago os marangos
mofados q guardei pra vc
Lindíssimo!
ResponderExcluirLINNNNNNNDO!!
ResponderExcluirlembrou-me isto aqui:
"menino deus
um corpo azul dourado
um porto alegre é bem mais que um seguro
na rota das nossas viagens no escuro" (caetano veloso)
o que "o ser que se é" produziu foi um nada, um escuro, um obscuro, o qual herdamos bilhões e bilhões de anos mais tarde. o ovo universal, isto é, o ovo cósmico, a oca esfera, o zero integral.
enquanto assim o for, sigo cantando com o mano caetano, aguardando este momento, o momento em que os breus se iluminem e haja, pela luz lançada aqui, um lapso que nos permitirá a compreensão disto tudo:
"menino deus
quando tua luz se acenda
a minha voz comporá tua lenda
e por um momento haverá mais futuro do que jamais houve"
é isso.
beijo, meu amor!
Antonio Cícero,
ResponderExcluirQue poema brilhante! Que lição!
Abs