Quando com minhas mãos de labareda te acendo e em rosa embaixo te espetalas
quando com o meu aceso archote e cego penetro a noite de tua flor que exala urina e mel que busco eu com toda essa assassina fúria de macho? que busco eu em fogo aqui embaixo? senão colher com a repentina mão do delírio uma outra flor: a do sorriso que no alto o teu rosto ilumina?
Caro Cícero, talvez não seja oportuno dizer isso aqui e dessa maneira, mas fiquei intrigado porque, entre tantos elogios, não fui capaz de atribuir a esse poema nenhum significado. Gostaria que você lançasse sobre ele alguma luz. Quero entendê-lo também... Ajude-me. Abraço, Leonardo.
Fiquei comovido com o pedido que lhe foi dirigido pelo Leonardo, Antonio Cícero. Estou torcendo para que você se disponha a atendê-lo. E me ponho a refletir: Que sorte a minha, que azar o meu, que ninguém dirija a mim um pedido assim!
o seu e-mail vem bem a calhar. Estou absolutamente sem tempo para atender ao pedido do Leonardo, pois me encontro totalmente voltado para o processo de produzir uma conferência de alta responsabilidade, que pronunciarei na semana que vem, no Ciclo de conferências "Mutações: a condição humana", dirigido pelo Adauto Novaes, na ABL, em São Paulo e em Belo Horizonte. Assim, sou eu que lhe dirijo o pedido que o Leonardo dirigiu a mim: por favor, fale algo sobre o poema "A galinha", do Gullar.
Decididamente, DEPOETAR esta Galinha do Gullar não está ao meu alcance! Concordo que pode parecer falsa modéstia da minha parte ter dito no meu comentário... (... que azar o meu que ninguém me dirija ... etc.), mas o fato é que não me sinto capaz de atender o pedido do Leonardo, enquanto você eu sei que sim, Antonio Cícero. Pena, por mim, por ele e por sei lá quantos mais que você não disponha de tempo. A mim falta mais que tempo: falta capacidade. Sinceramente, não sei sequer contar sílaba poética! Minha comoção com o pedido dele veio de saber por experiência pessoal que até me tornar capaz de me beneficiar da INUTILIDADE dos poemas de um João Cabral de Melo Neto, por exemplo, eu precisei ESTUDAR muito a poesia que ele escreveu. Ao Leonardo isto pode soar um contra senso: Como! Estudar poesia? Sim; da mesma forma que a gente aprende a ver o mar contemplando bons quadros que têm por tema o mar, a gente aprende a sentir até aquilo que o poeta não sente lendo boa poesia até se fartar. O importante é não se deixar abater por manifestações de entusiasmo de certos leitores que sentem necessidade de enganar a si próprios quanto aos sentimentos, às emoções suscitadas pela leitura de um poema, pela contemplação de um pôr-do-sol. Fique na sua, Leonardo! Seu dilema é indicativo claro da sua sensibilidade. Isso é o fundamental. Acrescente a ela estudo/leitura de poesia e você verá que este A Galinha do Ferreira Gullar é um poema bonito, mas nada que o torne digno, por exemplo, do adjetivo ESPETACULAR. Quanto ao sentido, somos todos livres para especular. Um exemplo: O fato de encerrar o poema se perguntando – Onde? Onde? – seria indicativo de que o autor estaria imaginando como seria o paraíso das galinhas, da forma que Graciliano Ramos se pôs a imaginar em Vidas Secas como seria o dos cães, tomando por referência a cadela Baleia? Pode ser. Sei lá!
Bem, lembrei-me de Clarice, em entrevista, quando defendeu que a fruição de uma obra está mais para a sensibilidade do que para o intelecto, referindo-se a um de seus romances. Essa é a sensação que tenho agora, quando, em vão, tento perscrutar a superfície desse poema, porém com os olhos do intelecto, como que a dissecá-lo. Falta-me justo a sensibilidade de ver além da aparência. Aos meus olhos, a "galinha" de Gullar não é uma galinha comum, e é justo nesse momento que me sinto tragado pela esfinge, incapaz de desvendar-lhe o mistério... No entanto, a despeito do debate ocasionado, meus caros amigos, o pedido foi ingênuo, reconheço, embora não despretensioso. Cícero, estou aqui, sempre que posso, a remexer seus escritos, extraindo deles muita coisa boa, em proveito próprio, risos, o que me dá bastante prazer, sou sempre outro a cada visita. E, quando não entendo algo, ou por falta de conhecimento ou mesmo por falta de sensibilidade, saio de mãos vazias, sem aquilo que vim buscar, mesmo não sabendo ao certo o que é... Ainda assim, se não há tempo para respostas, não deixe de nos encher de perguntas, pois são elas que nos movem na busca, que não cessa por aqui... Um grande abraço! Leonardo
muito visual e demasiadamente sensorial o poema. lindo...
traduz a vida de indiferença que à galinha é conferida. enxerga o muro, negro e absurdo, enxerga o mundo, claro e absurdo, e aceita-o, pura e simplesmente. em seu mundo não há belezas, pois, como sabemos, a beleza, é em nós que ela reside.
o sono, característico de um momento de quietude, de mansidão, estático, foi-se. agora, o olho da galinha é seco; está aberto, imóvel, parado, porém sem brilho, como se acordada às avessas.
ao final, a pergunta que não se cala e que, dificilmente, se calará: o sono, característico de uma pausa temporária, e, portanto, característico da vida, da cintilação que a vida produz, onde foi parar? por onde avançou a pausa eterna, o descanso frio e fosco? a vitalidade, voou para onde?
o mistério da vida...
por isso, por não ser uma galinha (rs), vivo, e vivo bem, o meu tempo enquanto há tempo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDo bom Ferreira Gullar
ResponderExcluirUm sorriso
Quando
com minhas mãos de labareda
te acendo e em rosa
embaixo
te espetalas
quando
com o meu aceso archote e cego
penetro a noite de tua flor que exala
urina
e mel
que busco eu com toda essa assassina
fúria de macho?
que busco eu
em fogo
aqui embaixo?
senão colher com a repentina
mão do delírio
uma outra flor: a do sorriso
que no alto o teu rosto ilumina?
Prezado A. Cícero,
ResponderExcluirO brilhante fecho do poema amplia sua dimensão:
- Ela dorme.
Onde ? Onde ? -
JR.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBelíssimo poema do Gullar.
ResponderExcluirabraço,
lucas
Caro Cícero, talvez não seja oportuno dizer isso aqui e dessa maneira, mas fiquei intrigado porque, entre tantos elogios, não fui capaz de atribuir a esse poema nenhum significado. Gostaria que você lançasse sobre ele alguma luz. Quero entendê-lo também... Ajude-me. Abraço, Leonardo.
ResponderExcluirFiquei comovido com o pedido que lhe foi dirigido pelo Leonardo, Antonio Cícero.
ResponderExcluirEstou torcendo para que você se disponha a atendê-lo.
E me ponho a refletir:
Que sorte a minha,
que azar o meu,
que ninguém
dirija a mim
um pedido assim!
Caro GLT,
ResponderExcluiro seu e-mail vem bem a calhar. Estou absolutamente sem tempo para atender ao pedido do Leonardo, pois me encontro totalmente voltado para o processo de produzir uma conferência de alta responsabilidade, que pronunciarei na semana que vem, no Ciclo de conferências "Mutações: a condição humana", dirigido pelo Adauto Novaes, na ABL, em São Paulo e em Belo Horizonte. Assim, sou eu que lhe dirijo o pedido que o Leonardo dirigiu a mim: por favor, fale algo sobre o poema "A galinha", do Gullar.
Obrigado e um abraço.
Prezado Antonio Cícero
ResponderExcluirDecididamente, DEPOETAR esta Galinha do Gullar não está ao meu alcance!
Concordo que pode parecer falsa modéstia da minha parte ter dito no meu comentário... (... que azar o meu que ninguém me dirija ... etc.), mas o fato é que não me sinto capaz de atender o pedido do Leonardo, enquanto você eu sei que sim, Antonio Cícero.
Pena, por mim, por ele e por sei lá quantos mais que você não disponha de tempo.
A mim falta mais que tempo: falta capacidade.
Sinceramente, não sei sequer contar sílaba poética!
Minha comoção com o pedido dele veio de saber por experiência pessoal que até me tornar capaz de me beneficiar da INUTILIDADE dos poemas de um João Cabral de Melo Neto, por exemplo, eu precisei ESTUDAR muito a poesia que ele escreveu.
Ao Leonardo isto pode soar um contra senso: Como! Estudar poesia?
Sim; da mesma forma que a gente aprende a ver o mar contemplando bons quadros que têm por tema o mar, a gente aprende a sentir até aquilo que o poeta não sente lendo boa poesia até se fartar.
O importante é não se deixar abater por manifestações de entusiasmo de certos leitores que sentem necessidade de enganar a si próprios quanto aos sentimentos, às emoções suscitadas pela leitura de um poema, pela contemplação de um pôr-do-sol.
Fique na sua, Leonardo!
Seu dilema é indicativo claro da sua sensibilidade.
Isso é o fundamental.
Acrescente a ela estudo/leitura de poesia e você verá que este A Galinha do Ferreira Gullar é um poema bonito, mas nada que o torne digno, por exemplo, do adjetivo ESPETACULAR.
Quanto ao sentido, somos todos livres para especular.
Um exemplo: O fato de encerrar o poema se perguntando – Onde? Onde? – seria indicativo de que o autor estaria imaginando como seria o paraíso das galinhas, da forma que Graciliano Ramos se pôs a imaginar em Vidas Secas como seria o dos cães, tomando por referência a cadela Baleia?
Pode ser.
Sei lá!
pensador,
ResponderExcluiro poema "A galinha" foi o primeiro que recitei para alguns em um sarau!
Ferreira e João Cabral são poetas excelentes para serem ditos em alto e bom som!
bom ver (vir) aqui!
Bem, lembrei-me de Clarice, em entrevista, quando defendeu que a fruição de uma obra está mais para a sensibilidade do que para o intelecto, referindo-se a um de seus romances. Essa é a sensação que tenho agora, quando, em vão, tento perscrutar a superfície desse poema, porém com os olhos do intelecto, como que a dissecá-lo. Falta-me justo a sensibilidade de ver além da aparência. Aos meus olhos, a "galinha" de Gullar não é uma galinha comum, e é justo nesse momento que me sinto tragado pela esfinge, incapaz de desvendar-lhe o mistério... No entanto, a despeito do debate ocasionado, meus caros amigos, o pedido foi ingênuo, reconheço, embora não despretensioso. Cícero, estou aqui, sempre que posso, a remexer seus escritos, extraindo deles muita coisa boa, em proveito próprio, risos, o que me dá bastante prazer, sou sempre outro a cada visita. E, quando não entendo algo, ou por falta de conhecimento ou mesmo por falta de sensibilidade, saio de mãos vazias, sem aquilo que vim buscar, mesmo não sabendo ao certo o que é... Ainda assim, se não há tempo para respostas, não deixe de nos encher de perguntas, pois são elas que nos movem na busca, que não cessa por aqui... Um grande abraço! Leonardo
ResponderExcluircicero, rapaz querido e bonito,
ResponderExcluirmuito visual e demasiadamente sensorial o poema. lindo...
traduz a vida de indiferença que à galinha é conferida. enxerga o muro, negro e absurdo, enxerga o mundo, claro e absurdo, e aceita-o, pura e simplesmente. em seu mundo não há belezas, pois, como sabemos, a beleza, é em nós que ela reside.
o sono, característico de um momento de quietude, de mansidão, estático, foi-se. agora, o olho da galinha é seco; está aberto, imóvel, parado, porém sem brilho, como se acordada às avessas.
ao final, a pergunta que não se cala e que, dificilmente, se calará: o sono, característico de uma pausa temporária, e, portanto, característico da vida, da cintilação que a vida produz, onde foi parar? por onde avançou a pausa eterna, o descanso frio e fosco? a vitalidade, voou para onde?
o mistério da vida...
por isso, por não ser uma galinha (rs), vivo, e vivo bem, o meu tempo enquanto há tempo.
beijo gostoso!
Paulinho querido,
ResponderExcluirobrigado por ter atendido ao pedido do Leonardo.
Beijo,
ACicero
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirse você acha que consegui contribuir com alguma coisa, tô de boa (rs)...
ResponderExcluirum beijo, riqueza!