8.8.08

Vinícius de Moraes: "Soneto do gato morto"

SONETO DO GATO MORTO


Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade

De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.

Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto

Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.




De: MORAES, Vinícius de. Nova antologia poética. Org. por Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2008.

8 comentários:

  1. que lindo, cicero!

    possuo vários amigos que têm e que adoram gatos!

    (isso é um troço curioso, porque a maioria deles começou a adotar os felinos mais ou menos na mesma época. me lembro bem que foi uma onda de adoção de gatos! entrou na minha vida, por tabela, um monte de bichanos! -rs)

    esse poema será endereçado a eles, vão adorar!

    beijo grande, riqueza!

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  2. uma coisa notada apenas ao enviar este poema aos meus amigos amantes de gatos: nele, no poema, fala-se de riso, tema do texto da inês pedrosa que você postou há pouco.

    achei bacana a coincidência.

    beijo!

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  3. Estranho
    A água em que me banho
    Não corre mais da mesma fonte
    Então, me conte,
    Pode falar de segredos, o que eu não sei
    O erro que aconteceu
    Será que águas
    Lágrimas
    São páginas
    Desse nosso existir
    Para além da morte insana
    Verdades, beldades
    Realidades
    Estranhas demais
    Para nós, mortais.

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  4. quando venta muito forte
    o medo sopra sobre as almas
    quanto a mim, sinto prazer
    revoluções explodem todo dia
    cataclismas mudam a face do planeta
    e eu, alegre, observando o vendaval
    esse assobio imenso que esparrama tudo:
    a dor, o desprazer, a morte...
    não, a morte não
    a morte é vento avesso
    que ao final de tudo
    sopra desde dentro
    até o fim dos tempos

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  5. Querido Cicero, desde criança gosto desse poema... Que bom compartilhar com você o apreço por gatos. Sempre me interessei em ler coisas sobre eles, tamanho o fascínio que me causam. Você conhece um texto do Baudelaire sobre os chineses e o relógio nos olhos dos gatos? Eu amo. Um beijo.

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  6. observador,

    eu tenho os dois:

    o gato, chama-se bóris e é negro no melhor estilo "o-gato-preto-cruzou a estrada",

    e o livro

    "Nova antologia poética. Org. por Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. Rio de Janeiro: Companhia das Letras".



    no caso do gato, é a chance de passar a mão em um tigre sem que ele a devore.

    no caso do livro, por ter lido vinícius desde sempre e achar que a sensibilidade de dois poetas que adoro seria suficiente para revelar um Vinícius que eu ainda não havia assimilado.

    acertei em cheio.



    um abraço!

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  7. Arthur,

    também gosto desse texto, de "Le spleen de Paris". Baudaire também adorava gatos.

    Beijo,
    ACicero

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