SONETO DO GATO MORTO
Um gato vivo é qualquer coisa linda
Nada existe com mais serenidade
Mesmo parado ele caminha ainda
As selvas sinuosas da saudade
De ter sido feroz. À sua vinda
Altas correntes de eletricidade
Rompem do ar as lâminas em cinza
Numa silenciosa tempestade.
Por isso ele está sempre a rir de cada
Um de nós, e ao morrer perde o veludo
Fica torpe, ao avesso, opaco, torto
Acaba, é o antigato; porque nada
Nada parece mais com o fim de tudo
Que um gato morto.
De: MORAES, Vinícius de. Nova antologia poética. Org. por Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2008.
que lindo, cicero!
ResponderExcluirpossuo vários amigos que têm e que adoram gatos!
(isso é um troço curioso, porque a maioria deles começou a adotar os felinos mais ou menos na mesma época. me lembro bem que foi uma onda de adoção de gatos! entrou na minha vida, por tabela, um monte de bichanos! -rs)
esse poema será endereçado a eles, vão adorar!
beijo grande, riqueza!
uma coisa notada apenas ao enviar este poema aos meus amigos amantes de gatos: nele, no poema, fala-se de riso, tema do texto da inês pedrosa que você postou há pouco.
ResponderExcluirachei bacana a coincidência.
beijo!
Estranho
ResponderExcluirA água em que me banho
Não corre mais da mesma fonte
Então, me conte,
Pode falar de segredos, o que eu não sei
O erro que aconteceu
Será que águas
Lágrimas
São páginas
Desse nosso existir
Para além da morte insana
Verdades, beldades
Realidades
Estranhas demais
Para nós, mortais.
quando venta muito forte
ResponderExcluiro medo sopra sobre as almas
quanto a mim, sinto prazer
revoluções explodem todo dia
cataclismas mudam a face do planeta
e eu, alegre, observando o vendaval
esse assobio imenso que esparrama tudo:
a dor, o desprazer, a morte...
não, a morte não
a morte é vento avesso
que ao final de tudo
sopra desde dentro
até o fim dos tempos
Querido Cicero, desde criança gosto desse poema... Que bom compartilhar com você o apreço por gatos. Sempre me interessei em ler coisas sobre eles, tamanho o fascínio que me causam. Você conhece um texto do Baudelaire sobre os chineses e o relógio nos olhos dos gatos? Eu amo. Um beijo.
ResponderExcluirobservador,
ResponderExcluireu tenho os dois:
o gato, chama-se bóris e é negro no melhor estilo "o-gato-preto-cruzou a estrada",
e o livro
"Nova antologia poética. Org. por Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. Rio de Janeiro: Companhia das Letras".
no caso do gato, é a chance de passar a mão em um tigre sem que ele a devore.
no caso do livro, por ter lido vinícius desde sempre e achar que a sensibilidade de dois poetas que adoro seria suficiente para revelar um Vinícius que eu ainda não havia assimilado.
acertei em cheio.
um abraço!
Arthur,
ResponderExcluirtambém gosto desse texto, de "Le spleen de Paris". Baudaire também adorava gatos.
Beijo,
ACicero
Obrigado Betina.
ResponderExcluirUm beijo.