Nem mesmo o melhor dos chineses poderia ter dito mais em compasso tão estreito. A noite, o desejo, a angústia de esperar e, com ela, a dor mais persistente, mais profunda, mais desesperançosamente incurável de saber que toda luz há que se pôr, que a vida e o amor declinam, declinam inexoravelmente rumo ao ocaso e à escuridão: todas essas coisas são implicadas – quão completamente! – nas linhas de Safo. As palavras continuam como que a ecoar e re-ecoar ao longo de corredores cada vez mais remotos da memória, com um som que jamais pode completamente morrer (tal é o estranho poder da voz do poeta) até a morte da própria memória.
De: HUXLEY, Aldous. Texts and pretexts: an anthology with commentaries. London: Flamingo, 1994.
Olá, Antônio Cícero.
ResponderExcluirO comentário do Aldous Huxley é muito bonito. E é daqueles textos que acabam dizendo do intérprete tanto quanto do poema.
João Renato.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigado, Arthur. Um grande beijo para você também.
ResponderExcluirACicero
A estrada deixa tudo para trás.
ResponderExcluirO que sentimos e pensamos,
nossas lembranças,
tudo vira pó.
Vivo meu dia
com a força da carne
e o fulgor da imaginação.
A estrada de quem ama,
longa, diferente,
particular e, para cada um,
repleta de curvas, pedras,
perfumes e paixões,
revela aquilo que devemos ver.
As dores ficam esquecidas.
As ofensas caem na lixeira.
Sobramos nós, apenas.
Sobreviventes.
Há também, no poema, a angústia de se saber só... e finita, como a noite.
ResponderExcluirA memória é, talvez, o último baluarte da história, atestando fatos e presenças. Com sua morte, tudo ingressa no esquecimento.
ResponderExcluirBelo texto de Huxley.