O seguinte artigo foi publicado na minha coluna da Folha de São Paulo, sábado, 19 de maio:
A poesia é um segredo dos deuses?
NUMA MESA-REDONDA de que participei recentemente, no encontro de escritores que tem lugar anualmente em Póvoa de Varzim, no norte de Portugal, o tema proposto para discussão foi: "A poesia é um segredo dos deuses". A propósito desse assunto, lembro que João Cabral dividia os poetas entre aqueles que tinham a poesia espontaneamente, como presente dos deuses, e aqueles -entre os quais ele mesmo se situava- que a obtinham após uma elaboração demorada, como conquista humana. Ora, o tema da nossa mesa havia sido proposto tanto para deixar à vontade os poetas do primeiro grupo, isto é, os que acreditam na inspiração, quanto para provocar os do segundo, isto é, os que não acreditam nela, de maneira que uns e outros se sentissem livres para expor as suas poéticas divergentes.
Quanto a mim, não sinto que caiba inteiramente em nenhum desses dois grupos. Certamente considero uma tolice pensar que a poesia seja pura inspiração, pura dádiva dos deuses; mas penso que há também um quê daquela violência que os gregos chamavam de "húbris", um quê de insolência e arrogância na tese de que ela seja o resultado plenamente consciente e calculado do trabalho.
“Inspiração” é o nome que damos à contribuição indispensável do incalculável, do inconsciente, do acaso e mesmo do equívoco à elaboração do poema. Nenhum grande poeta -nem mesmo João Cabral- jamais pôde deixar de se fazer disponível e receptível à irrupção dessas gratas e imprevisíveis contribuições. "A arte ama o acaso", diz Aristóteles, com razão, "e o acaso, a arte". E o acaso e a arte se encontram inextricavelmente entrelaçados na feitura do poema.
A tal ponto isso me parece verdade que não acho muita graça nas boutades segundo as quais a poesia seria 10% inspiração e 90% transpiração. Por quê? Porque elas sugerem a idéia comum e equivocada de que o poeta tem, em primeiro lugar, a inspiração, para depois ter o trabalho de desenvolvê-la e poli-la.
Ora, penso que é justamente durante o trabalho, na busca de alternativas ao imediato e fácil, ou na tentativa de solucionar problemas criados pelo desenvolvimento do próprio poema, que a inspiração é mais solicitada e bem-vinda; e, por sua vez, a incorporação do impremeditado ao poema exige sempre uma nova elaboração, de modo que jamais se pode saber ao certo quanto do resultado final se deve à inspiração ou ao trabalho.
O fato é que a mim são muito simpáticos os deuses que representam as fontes de inspiração dos poetas, como Apolo e as Musas. A estas, aliás, já dediquei, em gratidão, pelo menos um dos poemas que fiz. Entretanto, dado que também reconheço o papel indispensável do trabalho consciente na produção dos poemas, não acho correto dizer que a poesia seja um presente delas.
E, por duas razões, parece-me claro que a poesia não pode ser um segredo dos deuses. A primeira é que a poesia é um fenômeno humano, demasiadamente humano. Longe de consistir numa atividade puramente racional, ela lida com o que é particular, finito, humano. Ela usa palavras particulares de línguas particulares, finitas, humanas. Ela lida com a morte, a paixão, a perda, a ilusão, a esperança, o medo, a imaginação, o cômico, o trágico etc., que são realidades particulares, finitas, humanas. E a própria beleza da poesia é encarnada, sensual, particular, finita, humana. Os deuses -imortais, olímpicos, abençoados, oniscientes- não entenderiam tais coisas ou as desprezariam, pois se encontram muito acima delas. Conhecendo a poesia, o ser humano conhece uma maravilha que nenhum deus é capaz de conhecer.
Ademais, a poesia não pode ser um segredo, nem dos deuses, nem dos homens, nem mesmo do ponto de vista lógico. Por quê? Porque um segredo é algo que, em princípio, poderia ser revelado. Por exemplo, a fórmula de uma bomba ou a receita de um doce podem ser segredos, porque podem, em princípio, ser revelados. Se alguém diz que sabe um segredo, mas que não seria capaz de revelá-lo de modo nenhum, essa pessoa está mentindo. Um segredo tem que ser conhecido ao menos por uma pessoa ou um deus. Ora, é possível fazer um bom poema, mas não é possível, nem em princípio, saber como deve ser um poema, para ser bom. Essa é, na verdade, uma das poucas certezas que um poeta pode ter: é absolutamente inconcebível que haja fórmulas, receitas ou segredos -divinos ou humanos- para a feitura de um bom poema. Logo, a poesia não é um segredo dos deuses.
Até poedemos ser por um ífimo tempo deuses, mas na feitura de qualquer coisa, por exemplo dá um basta nos violadores, nos excomungado, expatriados. Reorganizar o mundo. Mas a poesia é um veículo de rodas pequenas chega muito perto do longe. E são nossos intentos e particularidades, que não comungam com ninguém a não ser conosco mesmo.
ResponderExcluirUm abraço
Meu irmão.
Concordo plenamento contigo, quando diz: "Ora, penso que é justamente durante o trabalho, na busca de alternativas ao imediato e fácil, ou na tentativa de solucionar problemas criados pelo desenvolvimento do próprio poema, que a inspiração é mais solicitada e bem-vinda; e, por sua vez, a incorporação do impremeditado ao poema exige sempre uma nova elaboração, de modo que jamais se pode saber ao certo quanto do resultado final se deve à inspiração ou ao trabalho."
ResponderExcluirNo mais, abordagem perfeita. Abraço.
Caro Antônio,
ResponderExcluirBelíssimo artigo. Concordo que a inspiração surge durante o trabalho, a busca. Mas muitas vezes é também uma inspiração que nos leva a buscar algo. A inspiração, por ser fruto do acaso e alheia à nossa vontade, vem à tona de diversas formas. A Poesia é também uma Deusa, no sentido daquele belo poema: vem e vai quando bem quer, brincando com nossa sensibilidade.
um abraço,
Lucas
"Ora, é possível fazer um bom poema, mas não é possível, nem em princípio, saber como deve ser um poema, para ser bom."
ResponderExcluirMas podemos saber como é que não se faz um bom poema? Há formas "erradas" de se fazer poemas? Há algo que se pode chamar de "específico poético", aquilo sem o qual um poema não "é" um poema?
Um abraço inquestionável
Paulo, você tocou num ponto interessante. Mal saíu publicado o meu artigo e pensei: "devia ter escrito também que tampouco se pode dizer como é que um poema não deve ser": mas já era tarde. Penso que as vanguardas tiveram o sentido de abrir portas, não de fechá-las. Nem o que era tabu antes delas nem o que veio a ser tabu para elas é tabu hoje. Cada poema tem que ser julgado individualmente: é para tal ou qual poema que tal ou qual forma é adequada ou não. O grande exemplo é o soneto. Como eu disse na entrevista à Revista Cult (postada aqui em 6/2), “Há algumas décadas, afirmava-se peremptoriamente que o soneto estava morto. Afinal, trata-se de uma forma desenvolvida na Idade Média, sete ou oito séculos atrás, e prodigamente usada e abusada, em todas as línguas européias modernas. Como poderia resistir ao novo mundo do telégrafo, do telefone, da televisão? Mas hoje é impossível negar a qualidade e a atualidade dos sonetos de Paulo Henriques Britto, por exemplo. Para explicar esse contra-exemplo, apela-se então, ad hoc, à ironia: os sonetos de Paulo Henriques Britto seriam exceções, graças à ironia. Pois bem, os sonetos de PHB foram escritos uns sete séculos depois dos de Petrarca. Em 1985, uns quinze anos antes dos sonetos de PHG, mas ainda uns sete séculos depois de Petrarca, Jorge Luiz Borges publicou inúmeros sonetos, que são verdadeiras obras-primas, no seu livro Los conjurados. Serão irônicos? Não mais do que toda a obra de Borges. Em todo caso, não são nada irônicos em relação ao soneto enquanto forma. Alguns anos antes, mas ainda uns sete séculos depois de Petrarca, Drummond publicara, sem ironia, outros tantos sonetos que também são obras-primas. Um pouco antes, mas também séculos depois de Petrarca, Rilke, Yeats, Mallarmé... e assim por diante. Como se pode decretar que não surgirão sonetos extraordinários nos próximos anos? Ou decretar como devem ser para serem aceitos? É claro que há sonetos e sonetos, e que quase todos os sonetos são ruins. Mas a verdade é que quase todos os poemas são ruins. Por que essa mania de cagar regras? A única regra necessária é: julgue-se caso por caso, e sempre a posteriori."
ResponderExcluirAbraços,
AC
...inclusive, os homéricos andam achando que Penélope pode ser um rapaz (talvez o último segredo da poesia de Homero a ser revelado) que, por amor, foi tão poeticamente endeusado que até hoje cria problemas para gente que recebe santo...
ResponderExcluirCaro Antonio, concordo com você quanto a "é para tal ou qual poema que tal ou qual forma é adequada ou não". Mas o que eu quis questionar era se é possível dizer que há um "específico poético", i.e., haveria algo de único no discurso poético que realmente o diferenciaria do discurso prosaico? Afinal, se não basta dividir um texto em várias linhas para considerá-lo um poema, nem tampouco criar rimas no final de cada uma dessas linhas, então o que faz de um "conjunto de palavras" um poema?
ResponderExcluirEu me arriscaria a tentar responder a essa questão da seguinte forma: a poesia é a única arte que consegue transformar signos convencionalizados (o signo verbal peirceano) em signos icônicos (aqueles que se relacionam com o seu objeto por meio de similaridades), criando uma relação de semelhança e, portanto, "necessária", "não-arbitrária", entre os signos que a compõem e o seu objeto.
Há também o inefável, o inexplicável, o intangível... Mas, quanto a esse aspecto da poesia, eu fico com Pessoa: "Sentir? Sinta quem lê!"
Abrações
"Mas a verdade é que quase todos os poemas são ruins.(...) julgue-se caso por caso, e sempre a posteriori."
ResponderExcluirUma discusão é essencial:
Existe poema bom e poema ruim?
Logo: arte boa e arte ruim?
Logo: idéia boa e idéia ruim?
Concordo que os poemas não se tornam poemas nutridos apenas de inspiração e que não há cartilha com instruções precisas sobre como ser poeta. Um verso de Celan diz q apenas as verdadeiras mãos fazem os verdadeiros poemas. Pode ser que seja isso mesmo. Acredito ser uma boa sugestão de leitura para refletir sobre o assunto o texto "Che cos'è la poesia?", de Jacques Derrida. Que deixe o ouriço falar.
ResponderExcluirGrande abraço.
Concordo que os poemas não se tornam poemas nutridos apenas de inspiração e que não há cartilha com instruções precisas sobre como ser poeta. Um verso de Celan diz q apenas as verdadeiras mãos fazem os verdadeiros poemas. Pode ser que seja isso mesmo. Acredito ser uma boa sugestão de leitura para refletir sobre o assunto o texto "Che cos'è la poesia?", de Jacques Derrida. Que deixe o ouriço falar.
ResponderExcluirGrande abraço.
Sobre o artigo,concordo com vc sim.Inspiração e trabalho caminham juntos no processo de produção do poema.
ResponderExcluirMas me deixa agradecer pela excelente leitura ontem no CCBB do Rio,foi simpelsmente fantástica,obrigado pelo autógrafo e pela foto.
Abraços.
Caro Paulo de Toledo,
ResponderExcluirAcho que a iconicidade é uma característica importante de muitos poemas e de muitos componentes de diferentes poemas, mas não creio que seja é a diferença específica, que determinaria a essência da poesia.
Você define o signo icônico como "aquele que se relaciona com seu objeto por meio da similaridade". Isso, porém, supõe uma diferença entre o poema e o seu objeto, que seria mais ou menos análoga à diferença entre o significante e o significado. Ora, penso que num poema, no limite, não se pode separar o significante do significado, o poema do seu objeto. É por isso que o poema não é parafraseável, isto é, que não se pode dizer em outras palavras o que um poema diz. Em última análise, parece-me que o poema é o objeto mesmo: o objeto verbal que vale por si, não por causa do que ele diz sobre outra coisa.
Abraço,
AC
Igor,
ResponderExcluirSó há poetas porque os poetas pressupõem que há poemas bons e poemas ruins. Se não houvesse, qualquer coisa seria tão boa quanto qualquer outra. Então, uma notícia qualquer de jornal poderia ser qualificada de poema e, como poema, valeria tanto (ou tão pouco) quanto tudo o que Shakespeare, Dante e Drummond fizeram. O mesmo de uma frase qualquer que qualquer um dissesse, tal como "o mundo é uma merda". Bastaria que a pessoa dissesse: "isso é um poema", e a frase à qual ela estivesse se referindo valeria tanto ou tão pouco quanto o que os poetas citados fizeram. Mas então eles não precisariam ter perdido tempo escrevendo o que escreveram. Para que, nesse caso, poetas? O mesmo vale para a arte e para as idéias. Só se faz arte ou se pensa seriamente porque se supõe que o que se está a fazer vale mais do que o que se faz sem arte ou sem pensar.
Abração
AC
Hudson,
ResponderExcluirMuito obrigado. Foi um prazer conhecê-lo pessoalmente.
Um grande abraço,
AC
Achei primoroso o artigo, tanto que estou organizando um sarau com o título do artigo.
ResponderExcluirEu teria terminado o artigo com: A poesia é.
Há muitas frentes de discussão. Eu, logo que li o artigo, lembrei-me dos estudos de Benjamin, de Adorno sobre a Modernidade, nos quais afirmam que o homem moderno, ao perder seus nortes, tem de ser um herói, luta contra si mesmo para se manter vivo. Lembro-me também eles dizendo que a arte perdeu sua qualidade de ferramenta política e social,servindo apenas para cada um tentar permanecer vivo a esse mundo no qual tudo perdeu o sentido, tudo é êfemero e transitório como um sopro.
E acho que com a poesia não é diferente.
CAbe aqui uma música interessantíssima de Lenine e Carlos Rennó, que explica bem o meoi em que vivemos e, consequentemente, de onde brota a poesia.
Eder PIres da FOnseca - www.ederfonseca.com.br
Vivo
autores: Lenine / Carlos Rennó
Precário, provisorio, perecível
Falível, transitório, transitivo
Efêmero, fugaz e passageiro:
Eis aqui um vivo
Eis aqui um vivo
Impuro, imperfeito, impermanente
Incerto, incompleto, inconstante
Instavel, variável, defectivo
Eis aqui um vivo
Eis aqui
E apesar
Do tráfico, do tráfego equívoco,
Do tóxico do trânsito nocivo;
Da droga do indigesto digestivo;
Do cancer vir do cerne do ser vivo;
Da mente, o mal do ente coletivo;
Do sangue, o mal do soropositivo;
E apesar dessas e outras,
O vivo afirma, firme e afirmativo:
“O que mais vale a pena é estar vivo”
Não feito, não perfeito, não completo,
Não satisfeito nunca, não contente,
Não acabado, não definitivo:
Eis aqui um vivo
Eis me aqui
Caro AC, o poema é, sim, algo não "parafraseável", mas exatamente porque os signos verbais (signos simbólicos, na nomenclatura peirceana) que o compõe (e que são signos convencionalizados, arbitrários), ao serem manejados pelo poeta, tornam-se signos icônicos (também segundo a definição de Peirce). E o signo icônico, diferentemente do signo simbólico/verbal, não admite paráfrase. Quando Dante se utiliza do número-conceito 3 para estruturar seu poema (terza rima, 3 cabeças do demônio, 3 "points": inferno, purgatório e paraíso etc.), este número transforma-se em um ícone do poema. Como diria o Décio Pignatari: ritmo é ícone. Portanto, quando lemos dois versos em que o esquema rímico e rítmico são iguais, há uma relação de similaridade entre eles e, consequentemente, há uma relação icônica entre os versos. As palavaras que os compõem deixam de ser meramente signos convencionalizados para se tornarem signos não-arbitrários, necessários.
ResponderExcluirEra mais ou menos isso que eu tentei dizer no outro comentário.
Abração
cicero cicero cicero,
ResponderExcluirmais uma vez, arrebentou! vc é foda, rapaz!
é por aí meeesmo.
poesia é um trabalho, para mim, que vai se dando, se mostrando no próprio transcorrer do serviço. o que enxergo, dentro do meu processo, foi o descrito aqui; muitas vezes, me surgem idéias, esboços, e a partir destes o trabalho, que conta, em tempo integral, com as tais inspirações, para que se solucionem os "nós" que precisam ser desatados. de modo que não saberia dizer qual é o mais importante. sei dizer que o raciocínio e o acaso são importantes. medir o mais valioso, isso, a mim, não importa. NECESSITO contar com os dois.
tal discussão, acho caber com a história que se fala sobre razão e emoção; senso comum diz que razão e emoção não caminham juntas; naturezas diferentes, estradas divergentes. assim não vejo. concordo com o fato de nascerem de úteros distintos, mas as estradas, pelo menos no meu percurso, convergem, e muito!
acredito piamente que a minha emoção está a serviço da razão, e vice-versa. sinto que o meu raciocínio me faz sentir melhor, burila as minhas emoções, é uma maravilha! (tenho um poema curtinho sobre o assunto. mandá-lo-ei a vc por email.)
pois é, fiquei pensando nessa coisa de "segredo dos deuses"... e me ative ao que os poemas segredam. e vejo questões inteiramente mundanas (rs). até quando os poemas tratam do divino, do celestial, de existência após a morte; nada mais humano que tais questões, são puramente existenciais.
é isso. um texto redundante, apenas para clarificar a concordância (rs).
parabéns, poeta!
grande beijo!
imenso carinho!
Caro Antônio,
ResponderExcluirEm relação à sua resposta ao Igor, discordo de seus argumentos. Não podemos partir do pressuposto de que os poetas fazem poesia a partir de uma escolha racional tendo como ponto de partida uma avaliação do valor da poesia. Certamente é possível fazer poesia assim, mas também é possível fazer poesia sem ter qualquer idéia sobre o seu valor. Ou mesmo tendo uma estima menor à poesia do que às palavras organizadas sem arte. De fato, um critério de valor não é necessário para definir o que é e o que não é poesia. E essa definição também não é necessária para que se faça poesia. Os seres humanos são capazes de fazer inúmeras coisas sem ter qualquer tipo de embasamento teórico ou idéia clara sobre o que fazem. Além disso, nada impede que os poemas sejam escritos com intenções completamente alheias ao seu valor peculiar, como, por exemplo, para obter prestígio, ou como uma forma de oração. Assim, acredito que sua argumentação não procede.
Ainda, mesmo pressupondo uma decisão racional do poeta,não vejo a necessidade de que um poema seja tido como "melhor" do que algum outro tipo de texto para que possa ser produzido. Um critério comparativo só seria necessário se o esforço gasto para produzir um poema comprometesse a possibilidade de se produzir outros tipos de textos, o que não ocorre. Basta que o poema tenha algum valor positivo qualquer para que valha a pena produzi-lo.
Concordo, no entanto, que existe sim um valor no poema, que podem haver poemas bons e ruins (embora não acredite que existam poemas melhores ou piores). Mas acho que a questão mais importante seria se existe um critério objetivo (mesmo que particular de cada poema) pelo qual ele pode ser determinado definitivamente como bom ou ruim. Nesse caso preciso discordar. Um poema tem tantos valores quanto leituras possíveis. Tal fato talvez seja péssimo para algumas correntes da crítica e teoria da literatura, mas nem por isso deixa de ser verdadeiro.
Um abraço,
Lucas Nicolato
Caros Paulo de Toledo e Lucas Nicolato,
ResponderExcluirembora eu tenha achado os comentários de vocês dois muito interessantes, e tencione responder, terei, infelizmente, que deixar isso para depois da conferência que, na semana que vem, pronunciarei em Lisboa. É que ainda não consegui terminá-la e o tempo é curto, de modo que, até lá, não poderei me distrair com nenhum outro assunto. Tenhamos um pouco de paciência.
Abraço grande,
AC
Caros A. Cícero e P. Toledo
ResponderExcluirA t´titulode provocação (sera?), a unica forma de PARÁFRASE que a poesia consente não será a/na tradução?
Alex
Caro Alex, a tradução, quando bem feita (do tipo transcriação haroldiana), não é uma paráfrase, mas, sim, a criação de um objeto paramórfico.
ResponderExcluirAbraços
Pascal encontrava Deus sem procurá-lo.
ResponderExcluirNão é o caso da poesia. A poesia não é coisa dos deuses – é coisa dos homens.
E é nisto que está sua beleza.
O mistério da poesia, aquilo que faz a poesia ser poesia, não é um dado divino, não é algo que se tenha por Revelação.
A poesia é um lance dos homens – e é busca. E é jogo.
A beleza está no jogo. Na relação. Na trama. No criar pistas e no desvendar. No trabalhar as palavras, a linguagem.
Tem gente que acredita em Deus.
ResponderExcluirTem gente que não acredita em nada.
Tem gente que crê no amor.
Tem gente que levanta os braços para o céu.
E temos nós, poetas, que acreditamos na poesia.
Que encontramos Deus na poesia.
Amor na poesia.
Palavra.
Todos somos, em algum tempo,inspirados por alguém ou por algo que, extraordinariamente nos fascina. Na juventude, a paixão é o sentimento mais presente e inspirador capaz de nos levar a perceber a poesia na dança das folhas no vento, nas águas que correm num rio.
ResponderExcluirNa idade adulta outros motivos nos fascinam e inspiram os sentimentos mais profundos. A própria poesia antes de ser revelada aos outros vive em nós.
Somos inspirados sim, mas para deixar que essa inspiração extravase muito há que se fazer.
Maria Aparecida de Oliveira Borges
Acredito que a poesia vem da alma...Os poetas tem um jeito diferente de entender e escrever a realidade, por isto são poetas, veem o mundo com os olhos da alma.
ResponderExcluirMaravilhoso artigo. Estou de acordo com você, porque a poesia não é um segredo dos deuses. Podemos sim criar belas poesias, com diversas características que podem inspirar e/ou emocionar o leitor.
ResponderExcluirUm abraço!!
Drica
Paranhos-MS
Caro António,
ResponderExcluirGosto muito de ler e produzir poemas.E sempre que os faço é de forma espontânea, sem planejar.AH! Agora vou escrever um belo poema, não, do nada surge o tema...Portanto, acredito que tem muito a ver com inspiração ainda que não seja dos deuses.
Concordo quando diz não ser a poesia um segredo dos deuses,porém penso que tem hora pra nascer,uma linha tênue entre o poeta e os "deuses" - talvez, um pequenino ou gigantesco assopro,depende da disponibilidade do poeta...
ResponderExcluirPenso que, uma poesia elaborada demais não tem emoção...claro que há necessidade em dar toques e retoques,como em todas as artes,e muitas vezes nesses retoques ela muda completamente...e embora mudando completamente,ainda assim é continuação daquela linha entre o poeta e os deuses...
[Pelo menos a poesia popular,pode ser que os grandes poetas -intelectualizados a façam somente muito bem elaboradas]
Um beijo poético!
http://poesia-de-mel.blogspot.com.br/
"A arte ama o acaso", diz Aristóteles, com razão, "e o acaso, a arte". E o acaso e a arte se encontram inextricavelmente entrelaçados na feitura do poema.[ concordo]...
ResponderExcluirque é particular, finito, humano. Ela usa palavras particulares de línguas particulares, finitas, humanas. Ela lida com a morte, a paixão, a perda, a ilusão, a esperança, o medo, a imaginação, o cômico, o trágico etc., que são realidades particulares, finitas, humanas...[concordo até certo ponto.. o infinito também é concebível]. E a própria beleza da poesia é encarnada, sensual, particular, finita, humana. Os deuses -imortais, olímpicos, abençoados, oniscientes- não entenderiam tais coisas ou as desprezariam, pois se encontram muito acima delas...
mas não é possível, nem em princípio, saber como deve ser um poema, para ser bom. Essa é, na verdade, uma das poucas certezas que um poeta pode ter: é absolutamente inconcebível que haja fórmulas, receitas ou segredos -divinos ou humanos- para a feitura de um bom poema. [não existe aqui nenhum silogismo]Logo, a poesia não é um segredo dos deuses...[um segredo também pode ser um mistério, não deixa de ser um segredo]
Porque um segredo é algo que, em princípio, poderia ser revelado. Se alguém diz que sabe um segredo, mas que não seria capaz de revelá-lo de modo nenhum, essa pessoa está mentindo. Um segredo tem que ser conhecido ao menos por uma pessoa ou um deus...[tudo deixa de ser um segredo depois de revelado...mas este segredo não é algo que se queira ocultar]...Conclusão; Logo, a poesia não é um segredo dos deuses" pode ser.. mas então a poesia é um segredo para os deuses ou com os deuses.. que é diferente de o ser" porque há poesia que têm algo de valor intrínseco.. sincero que se dotam de formas mais puras e o mais puro é " divino" sendo assim a poesia pode ser um manjar entre os deuses ou a arte mais admirável dos deuses.. a poesia"
carlo ac liberal