28.1.22

Paulo Henriques Britto: "À margem do Douro"

 



À margem do Douro



Não espero nada, e já me satisfaço

com a consciência de ainda estar em mim

e não de volta ao nada de onde vim.

Por ora, ao menos, ainda ocupo espaço,

junto a uma mesa no Cais da Ribeira;

permito-me, sem culpa, desfrutar

de pão, e queijo, e vinho, e vista, e ar,

todo o entorno da minha cadeira.

Que os dias que me restam não me tragam

apenas a miséria de contá-los

pra ao fim ver que as contas não fecham. Peço

demais? Eu, que não sou desses que tragam

a vida num só gole e no gargalo,

sem ter nem mesmo perguntado o preço.




BRITTO, Paulo Henriques. "À margem do Douro". In:_____ "Nenhum mistério". In:_____ Por Ora. Poesia reunida (1982-2018). Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2021.

Nenhum comentário:

Postar um comentário