16.1.22

Fernando Pessoa / Álvaro de Campos: "Magnificat"

 



Magnificat



Quando é que passará esta noite interna, o universo,

E eu, a minha alma, terei o meu dia?

Quando é que despertarei de estar acordado?

Não sei. O sol brilha alto,

Impossível de fitar.

As estrelas pestanejam frio,

Impossíveis de contar.

O coração pulsa alheio,

Impossível de escutar.

Quando é que passará este drama sem teatro,

Ou este teatro sem drama,

E recolherei a casa?

Onde? Como? Quando?

Gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?

É esse! É esse!

Esse mandará como Josué parar o sol e eu acordarei;

E então será dia.

Sorri, dormindo, minha alma!

Sorri, minha alma, será dia!






PESSOA, Fernando. “Magnificat”. In:_____ “Poesias de Álvaro de Campos“. In: “Ficções do interlúdio”. In:_____ Obra poética. Org. por Maria Aliete Galhoz. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1980.


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