28.4.21

Manuel Bandeira: "Mal sem mudança"

 



Mal sem mudança



Da América infeliz porção mais doente,

Brasil, ao te deixar, entre a alvadia

Crepuscular espuma, eu não sabia

Dizer se ia contente ou descontente.


Já não me entendo mais. Meu subconsciente

Me serve angústia em vez de fantasia,

Medos em vez de imagens. E em sombria

Pena se faz passado o meu presente.


Ah, se me desse Deus a força antiga,

Quando eu sorria ao mal sem esperança

E mudava os soluços em cantiga!


Bem não é que a alma pede e não alcança.

Mal sem motivo é o que ora me castiga,

E ainda que dor menor, mal sem mudança.





BANDEIRA, Manuel. "Mal sem mudança". In:_____. "Estrela da tarde". In:_____. Estrela da vida inteira. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.

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