3.2.21

Rainer Maria Rilke: "Morge": trad. por Augusto de Campos

 



Morgue



Estão prontos, ali, como a esperar

que um gesto só, ainda que tardio,

possa reconciliar com tanto frio

os corpos e um ao outro harmonizar;


como se algo faltasse para o fim.

Que nome no seu bolso já vazio

há por achar? Alguém procura, enfim,

enxugar dos seus lábios o fastio:


em vão; eles só ficam mais polidos.

A barba está mais dura, todavia

ficou mais limpa ao toque do vigia,


para não repugnar o circunstante.

Os olhos, sob a pálpebra, invertidos,

olham só para dentro, doravante.




Morgue



Da liegen sie bereit, als ob es gälte,

nachträglich eine Handlung zu erfinden,

die mit einander und mit dieser Kälte

sie zu versöhnen weiß und zu verbinden;

 

denn das ist alles noch wie ohne Schluß.

Was für ein Name hätte in den Taschen

sich finden sollen? An dem Überdruß

um ihren Mund hat man herumgewaschen:

 

er ging nicht ab; er wurde nur ganz rein.

Die Bärte stehen, noch ein wenig härter,

doch ordentlicher im Geschmack der Wärter,

 

nur um die Gaffenden nicht anzuwidern.

Die Augen haben hinter ihren Lidern

sich umgewandt und schauen jetzt hinein.









RILKE, Rainer Maria. "Morgue". In: CAMPOS, Augusto de. Coisas e anjos de Rilke.  São Paulo: Perspectiva, 2013.

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