17.9.19

Carlos Cardoso: "O passado"




O passado

Passadas as horas ficou o passado
e o vago que é a lagoa Rodrigo de Freitas
e seus peixes mortos a boiarem.

É nele que me fixo.

O passado é fonte de riqueza
é nele que busco o saber
é nele que encontro o que busco,

o passado é mais hoje que o presente
que quando ausente
é no passado que eu volto.

O futuro que vejo é refém do passado que eu sei,

como uma couve que brota do seu broto
como uma árvore que um dia foi semente,

o passado é melancolia,
e de repente

isso é tudo o que eu queria.





CARDOSO, Carlos."O passado". In:_____. Melancolia. Rio de Janeiro: Record, 2019.

3 comentários:

  1. Ansiosa para ler o novo livro do escritor Carlos Cardoso, Melancolia. Sempre sou surpreendida com sua literatura poética e sua forma única de escrever e encantar o leitor.

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  2. "o passado é mais hoje que o presente
    que quando ausente
    é no passado que eu volto."

    Que bela construção, sinto-me dessa forma.
    ótima escolha do poema.

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  3. Ah, o passado...


    Michael Krüger – À primeira vista

    Na verdade, nada mudou:
    o castanheiro diante da casa, martirizado pela hera,
    as ameixeiras sobre o seu tapete azul,
    o doce perfume da infância e da decadência.
    Do vale, rugem os caminhões,
    e a sombra se apressa em redor da casa
    em sentido anti-horário, perscrutando a dor.
    Até o poço ainda está lá como um poema.
    Quando olhei para dentro, saudou-me de baixo, do fundo,
    um rosto enrugado por sapos.
    Sua boca estava aberta, como se ele quisesse gritar.
    Só as trilhas para o povoado aumentaram
    e uma conduz diretamente ao meu coração.
    Mas, de resto, nada mudou.

    Trad.: Nelson Santander

    Auf den ersten Blick

    Eigentlich hat sich nichts verändert:
    die Kastanie vor dem Haus, vom Efeu gemartert,
    die Pflaumenbäume auf ihrem blauen Teppich,
    der süße Geruch der Kindheit und des Verfalls.
    Vom Tal herauf dröhnen die Laster,
    und der Schatten läuft eilig ums Haus,
    gegen die Zeiger der Uhr, und prüft den Kummer.
    Sogar der Brunnen steht noch wie ein Gedicht.
    Als ich hineinsah, grüßte von unten, von Grund,
    ein Gesicht, von Fröschen in Falten gelegt.
    Sein Mund stand weit offen, als wollte er schreiren.
    Nur die Wege ums Dorf haben sich vermehrt,
    und einer führt geradenwegs durch mein Herz.
    Aber sonst hat sich nichts verändert.
    https://nsantand.wordpress.com/2019/09/20/michael-kruger-a-primeira-vista/

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