Sepultura romântica
Ali, onde o mar quebra, num cachão
Rugidor e monótono, e os ventos
Erguem pelo areal os seus lamentos,
Ali se há-de enterrar meu coração.
Queimem-no os sóis da adusta solidão
Na fornalha do estio, em dias lentos;
Depois, no Inverno, os sopros violentos
Lhe revolvam em torno o árido chão…
Até que se desfaça e, já tornado
Em impalpável pó, seja levado
Nos turbilhões que o vento levantar…
Com suas lutas, seu cans ado anseio,
Seu louco amor, dissolva-se no seio
Desse infecundo desse amargo mar!”
QUENTAL, Antero de. "Sepultura romântica". In: GULLAR, Ferreira (org. e trad.). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário