Aos leitores amigos
Poetas não podem calar-se,
Querem às turbas mostrar-se.
Há-de haver louvores, censuras!
Quem vai confessar-se em prosa?
Mas abrimo-nos sub rosa
No calmo bosque das Musas.
Quanto errei, quanto vivi,
Quanto aspirei e sofri,
Só flores num ramo – aí estão;
E a velhice e a juventude,
E o erro e a virtude
Ficam bem numa canção.
An die Günstigen
Dichter lieben nicht zu schweigen,
Wollen sich der Menge zeigen.
Lob und Tadel muß ja sein!
Niemand beichtet gern in Prosa;
Doch vertraun wir oft sub rosa
In der Musen stillem Hain.
Was ich irrte, was ich strebte,
Was ich litt und was ich lebte,
Sind hier Blumen nur im Strauß;
Und das Alter wie die Jugend,
Und der Fehler wie die Tugend
Nimmt sich gut in Liedern aus.
GOETHE, Johann Wolfgang von. "An die Günstigen" / "Aos leitores amigos". In: Poemas. Antologia bilingue. Versão portuguesa de Paulo Quintela. Coimbra: Centelha, 1979.
Antonio Cicero, como você elogiou um poema traduzido por mim que postei aqui dia desses (ah, os riscos de um elogio), segue mais um, publicado no meu blog no dia de hoje. Deixo também um convite para que vc visite minha página. Tem bastante coisa lá que acredito que vc irá gostar. Abço!
ResponderExcluirDelmore Schwartz – Tranquilamente passeamos neste dia de abril
Tranquilamente passeamos neste dia de abril,
Poesia de rua por todo lado,
No parque sentam-se indigentes e usurários,
As crianças gritando, o carro
Em fuga que passa correndo por nós,
Entre o trabalhador e o milionário
Os números expressam as distâncias,
São dezenove e trinta e sete agora,
Muitos prezados amigos foram levados para longe,
O que será de você e de mim
(Esta é a escola em que aprendemos…)
Além da foto e da lembrança?
(…que o tempo é o fogo em que nos queimamos.)
(Esta é a escola em que aprendemos…)
O que é o eu no meio deste incêndio?
O que sou eu agora que era antes
O que devo sofrer e fazer novamente,
A teodiceia que escrevi em meus tempos de colégio
Restaurou os anos da infância,
As crianças gritando resplandecem enquanto correm
(Esta é a escola em que elas aprendem…)
Inteiramente arrebatadas em suas jogadas de passe!
(…que o tempo é o fogo em que nos queimamos.)
Ávida em sua urgência, que chama vacilante!
Onde estão meu pai e Eleanor?
Não onde eles estão agora, mortos há sete anos,
Mas onde estavam eles então?
Não mais? Não mais?
Da adolescência até hoje,
Bert Spira e Rhoda se consumiram, se consumiram
Não onde estão eles agora (onde eles estão agora?)
Mas onde estavam eles então, ambos belos;
Cada minuto explode no quarto em chamas,
O grande globo se contorce sob o fogo solar,
Girando ao seu modo único e trivial.
(Como todas as coisas pulsam! Como todas as coisas brilham!)
O que sou eu agora que era antes?
Minha memória resgata de novo e de novo
A mínima cor do menor dos dias:
O Tempo é a escola em que aprendemos,
O Tempo é o fogo em que nos queimamos.
Trad.: Nelson Santander
Calmly we walk through this April’s day
Calmly we walk through this April’s day,
Metropolitan poetry here and there,
In the park sit pauper and rentier,
The screaming children, the motor-car
Fugitive about us, running away,
Between the worker and the millionaire
Number provides all distances,
It is Nineteen Thirty-Seven now,
Many great dears are taken away,
What will become of you and me
(This is the school in which we learn …)
Besides the photo and the memory?
(… that time is the fire in which we burn.)
(This is the school in which we learn …)
What is the self amid this blaze?
What am I now that I was then
Which I shall suffer and act again,
The theodicy I wrote in my high school days
Restored all life from infancy,
The children shouting are bright as they run
(This is the school in which they learn …)
Ravished entirely in their passing play!
(… that time is the fire in which they burn.)
Avid its rush, that reeling blaze!
Where is my father and Eleanor?
Not where are they now, dead seven years,
But what they were then?
No more? No more?
From Nineteen-Fourteen to the present day,
Bert Spira and Rhoda consume, consume
Not where they are now (where are they now?)
But what they were then, both beautiful;
Each minute bursts in the burning room,
The great globe reels in the solar fire,
Spinning the trivial and unique away.
(How all things flash! How all things flare!)
What am I now that I was then?
May memory restore again and again
The smallest color of the smallest day:
Time is the school in which we learn,
Time is the fire in which we burn.
https://wp.me/p7fifM-1Cc