9.7.19

António Botto: "Não. Beijemo-nos apenas"




I


Não. Beijemo-nos, apenas,
Nesta agonia da tarde.

Guarda – 
Para outro momento
Teu viril corpo trigueiro.

O meu desejo não arde
E a convivência contigo
Modificou-me – sou outro. . .

A névoa da noite cai.

Já mal distingo a cor fulva
Dos teus cabelos. – És lindo!

A morte
Devia ser
Uma vaga fantasia!

Dá-me o teu braço: – não ponhas
Esse desmaio na voz.
Sim, beijemo-nos, apenas!,
- Que mais precisamos nós?




BOTTO, António. "Não. Beijemo-nos apenas". In:_____. "Adolescente". In:_____. Canções e outros poemas. Org. de Eduardo Pitta. Vila Nova do Famalicão: Quasi, 2007.

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