24.1.19

Nelson Ascher: "Exegi monumentum"



Exegi monumentum

Ergui pra mim, mais alto
que o Empire State Building, menos
biodegradável mesmo
que o urânio, um monumento

que, à chuva ácida ileso
e imune à inversão térmica,
não tem turnover nem
sairá de moda nunca.

Não morrerei de todo:
cinqüenta ou mais por cento
de meu ego hão de incólumes
furtar-se à obsolescência

programada e hei de estar
no Quem É Quem enquanto
Hollywood dê seus Oscars
anuais ou supermodels

desfilem mudas pelas
mil e uma passarelas.
Onde transborda infecto
nosso Tietê, nas várzeas

garoentas sempre cujos
quatrocentões votavam
antanho em Jânio Quadros,
lembrar-se-ão de que fui

quem adaptou primeiro
em Sampa, ao berimbau
tropicalista, Horácio.
Credita-me tais méritos

e põe durante este ano
fiscal, Academia
Sueca, em minha conta
a grana do Nobel.




ASCHER, Nelson. "Exegi monumentum". In:_____. Parte alguma. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

5 comentários:

  1. Ora bolas! Eu fui aos endereços que enviou, mas o que me aparece é que essas páginas não existem neste blogue. Admito que seja erro meu, dado que já ter encontrado outras também anteriores.
    Obrigada pelo esclarecimento. Na verdade pareceu-me um texto a modos que chocarreiro:))

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  2. Prezada Bia,

    Desculpe! havia erros nos dois endereços que lhe dei. Corrigidos, os endereços certos são os seguintes:

    http://antoniocicero.blogspot.com/2009/12/horacio-ode-xxx-do-livro-iii-traduzida.html

    e

    http://antoniocicero.blogspot.com/2009/12/haroldo-de-campos-horacio-contra_20.html

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  3. Puta poema! Nelson Ascher é foda

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  4. Prezada Bea,

    anos atrás escrevi um artigo que, entre outras coisas, fala da relação entre esse poema de Haroldo e o de Horácio. Não sei se vai lhe interessar, mas caso interesse, ele se encontra aqui:

    https://antoniocicero.blogspot.com/2010/02/carpe-diem-o-seguinte-artigo-publicado.html

    Abraço

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